Iron Woman | 1x06 - "Aprendendo a Voar"


Uma obra de: Senhorita Stark
Inspirado em personagens da Marvel Comics


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O grande avião aterrissou na pista de voo, cantando pneus. Alívio. Quando os pneus da aeronave tocaram em solo norte-americano eu senti um alivio imenso, algo indescritível. Eu sempre sonhei em voar desde criança, ouvindo as histórias de Peggy Carter sobre meu pai como o melhor piloto civil que ela conhecia, corajoso ao adentrar espaços aéreos perigosos. Isso certamente foi o que mais me motivou a entrar para a aeronáutica aos dezessete anos, mas naquele instante eu me sentia como um náufrago pisando em terra firme depois de passar um tempão em uma ilha deserta. Não estava afim de ver nem de entrar em outro avião tão cedo.
A rampa do avião moveu-se para baixo, me revelando a pista de pouso familiar e Pepper e Happy lá embaixo, me aguardando. Rhodes me apoiava segurando minha mão esquerda enquanto descíamos a rampa devagar. Eu ainda me sentia um pouco fraca, abalada e tinha uma tipoia em meu braço direito. Minha aparência já era um pouco melhor, prendi os cabelos num rabo de cavalo médio e vestia uma blusa branca abotoada e casaco por cima. Saia um pouco acima dos joelhos e salto. Detestava usar aquelas roupas numa situação como aquela. Preferia algo mais confortável, mas eu tinha algo importante a fazer.
Quando me soltei de Rhodes e avistei Pepper fui correndo abraça-la. Vi que ela estava chorando, pobrezinha. Potts é uma mulher prestativa e ás vezes até age maternalmente, é requintada, cuidadosa e fofa geralmente. A voz dela é suave e transmite tranquilidade. Fiquei com dó, vendo a desse jeito por minha causa. Mais uma pessoa que Natasha Stark fazia sofrer. Seus cabelos vermelhos estavam presos, com algumas mechas caindo.
— Você tá chorando, Pep... – A voltei e segurei nas mãos dela, olhando triste.
— Lágrimas de alegria, Tasha. – Ela responde. – Odeio procurar emprego.
— Desculpe por isso. – Soltei uma leve risada. – Agora as férias terminaram, Srta. Potts.
Enquanto nos dirigíamos para o carro, Pepper me falou sobre todos que telefonaram desesperados por notícias minhas, entre elas Susan Richards, a Mulher Invisível tentando conter o ímpeto do irmão e Peggy Carter, já tão idosa, dizendo que sentiu a intuição lhe alertando. Entramos no carro. Eu mal podia esperar por aquilo. Aquela era a hora perfeita para começar a agir.
— Para onde, Srta.? – Happy perguntou.
— Hospital, direto. – Pepper respondeu, mas sobressaltei minha vontade.
— Não, gente.
— Como não, Tasha? – A ruiva me fitou incrédula. – Você tem que fazer alguns exames.
— Eu fiquei presa durante 3 longos meses naquela maldita caverna. Só preciso de duas coisas: Um café e...
— Nem pensar, Tasha... – Pepper deu bronca. – Eu sei que deve ter sentido a falta do Sr. Storm e ele e você, mas...
— Não é nada disso, depois eu falo com ele. Mas antes eu preciso de uma coletiva de imprensa. – Falei com convicção. – Convoque uma coletiva de empresa.
— Mas como assim? Por que? – Pepper deveria ter mil e uma dúvidas na cabeça, mas agora eu não tinha tempo nem saco para responder. Apenas deitei a cabeça na poltrona do carro e murmurei.
— Não se esqueçam do meu café.
O carro estacionou bem em frente a várias bandeiras dos Estados Unidos e várias pessoas me aplaudindo, flashes de câmeras de cinegrafistas e paparazzis famintos por momentos meus. No entanto eu não tinha tempo para fama naquela hora, apenas reunir a imprensa do país. Eu tinha algo a dividir com o mundo. Obadiah chamou a atenção, abriu a porta do carro e me abraçou empolgado em meio a uma multidão me aplaudindo. Happy me deu uma pequena xícara de café que tomei em poucos instantes antes de seguir para o salão principal, sendo recebida por um mar de repórteres e seus flashes.
— Srta. Potts? Posso falar com a senhora? – Um homem desconhecido, um pouco calvo, estatura mediana e vestindo um terno abordou Pepper.
— Eu não sou da coletiva, mas já vai começar. – Ela respondeu educadamente.
— Não sou da imprensa. – Ele corrigiu com a mesma educação. – Sou o Agente Phil Coulson da Superintendência Humana de Intervenção, Espionagem, Logística e Dissuasão.
— Que nome longo...
— Eu sei, criaremos um mais curto. – Responde Coulson um pouco constrangido.
— Já fomos abordados pelo Departamento de segurança, FBI e CIA.
— Somos uma divisão separada, com foco mais específico. E precisamos interrogar a Srta. Stark sobre as circunstâncias de sua fuga.
— Agendarei o senhor, certo? – A ruiva disse.
— Obrigado.
Obadiah anunciou o início da coletiva, animado, e eu entrei logo depois com uma cara mais séria que o normal. Quando eu fico abalada com alguma coisa, dificilmente o meu típico bom humor volta ao normal rapidamente. Pus as mãos na superfície de madeira de cabeça baixa e suspirei.
— É bom te ver. Eu nunca disse adeus ao meu pai. – Me virei para Obadiah e depois para a multidão. – Eu nunca disse adeus ao meu pai, amigos. Eu gostaria de ter feito a ele algumas perguntas. Se estava satisfeito com o rumo que a empresa seguia, com o que ele fazia, conflito interno, dúvida. Conseguia botar a cabeça no travesseiro em paz? Ou era realmente aquele Homem de Ferro frio que vemos nos jornais e documentários.
Fiz uma breve pausa, lembrando-me dos amigos que perdi para as armas. Me esforcei para não deixar a emoção novamente me tomar de assalto. Como Peggy sempre me disse: Agir primeiro, chorar depois.
— Eu testemunhei a morte de jovens norte-americanos e uma marroquina. Todos meus amigos. Aniquilados pelas mesmas armas que eu projetei, nas mãos de assassinos. Pensei que fossem sido criadas para defende-los e protege-los, mas não foi bem assim. E então eu percebi que, durante todos esses anos, eu pertencia a um sistema irresponsável.
— O que houve lá? – Um repórter me perguntou.
— Eu acordei para a realidade. Vi que tenho muito mais a oferecer ao mundo do que explosões e morte. E é por isso... – Fiz uma breve pausa, elevando a cabeça confiante. Voltando a falar e aumentando o tom de voz ligeiramente – Que eu decreto o fechamento da fabricação de armamento da Stark Internacional. Depois decidirei qual será o destino que minha empresa terá. Farei o melhor que puder, pelo bem-estar deste país.
Como esperado, o mar de gente se agitou. Várias vozes ouvidas ao mesmo tempo, mãos levantadas e um constrangido Obadiah tentando pôr panos quentes. Ele levantou-se, se pôs ao meu lado, me afastou gentilmente e tomou a vez ao microfone.
— Bem, senhoras e senhores. Em resumo, podemos concluir que a Tasha voltou. Mais forte e mais saudável...
Depois de me distanciar daquele mar de gente eu resolvi parar um instante e fiquei a refletir diante do grande reator arc, uma obra prima tecnológica do meu pai. A obra de uma vida. Uma luz azul gigante correndo em círculo, envolto por um invólucro transparente e duro. Eu tenho muito mais o que oferecer a este mundo e via naquele círculo azul energético um meio bem melhor e seguro. Ouvi passos na porta e me virei, fitando um Obadiah tenso e com razão, eu provoquei o capitalismo.
— Foi bem, foi muito bem. – Ele prendia um charuto entre os dentes e suas mãos estavam sobre sua cintura.
— Pintei um alvo nas costas, não? E da minha cabeça...
— Da sua cabeça? E da minha cabeça? – Ele andava em passos largos, visivelmente irritado. – Quanto acha que nossas ações vão cair amanhã?
— Sendo otimista, uns quarenta.
— Isso no mínimo. Tasha, somos fabricantes de armas. É isso que nós fazemos. Monges de Ferro.
— Não quero mais uma contagem de corpos em meu nome, Obadiah. – O interrompia, defendendo minha nova filosofia.
— É o meu nome!! – Elevei meu tom de voz raivoso.
— É o que impede que o mundo se transforme em um caos. – Ele também elevou, mas não me intimidei.
— Não com base no que os meus olhos presenciaram. Isso que fazemos não é um bom trabalho, podemos melhorar sem despejar mais nenhuma gota de sangue.
— O que faremos então? Bonequinhas?
— A solução pode estar bem diante de você. – Movi o rosto para a esquerda.
— Por favor, Tasha. Nós dois sabemos que o reator arc é economicamente inviável. Um golpe publicitário para calar a boca do Capitão Planeta.
— Não se pode cobrar o que não se quantifica, não é? – Eu disse a verdade. Ele arqueou uma sobrancelha, engolindo em seco. – Só que ele funciona.
— Um projeto de ciências. Olha, não tivemos progresso algum nessa porcaria em trinta anos.
— Eu tentarei mesmo assim.
— Mulheres... – Obadiah revirou os olhos e seguiu andando. – Armas realmente nunca foram feitas para vocês.
— Não sabe esconder um segredo, Obadiah. – Eu interrompi seus passos com minha voz. – Quem te contou?
— Não importa, me mostre essa merda.
Desabotoei minha camiseta, revelando o reator em miniatura, cravado em meu peito. Eu sempre visto uma outra camiseta branca por baixo nessas horas. Ele olhou rapidamente e logo me mandou abotoar a camisa novamente.
— Sabe, Tasha. Somos uma equipe. – Ele pôs o braço direito em meu ombro. O charuto em sua mão. – Não há nada que não possamos fazer se ficarmos juntos, como seu pai e eu. Chega de preparar, apontar, fogo.
— O papai dizia isso...
— O jogo será diferente, tem que me deixar tomar as rédeas. Vamos sofrer muita pressão e eu quero que você me prometa que vai ficar tranquila.
Eu sabia que, para começar a cortar o mal pela raiz, eu sofreria esses impasses em minha empresa. Á partir do instante em que proferi aquelas palavras, sabia que as ações iriam cair, invejosos e maliciosos teriam motivo de sobra para despejarem seu chorume verbal negativo sobre mim. Mas tudo por um bom motivo: A diminuição da violência.
Eu havia passado em casa rapidamente para tomar um banho. Pepper me auxiliava em qualquer procedimento em que eu encontrasse dificuldade com meu braço. Comecei a me arrumar, pondo uma roupa mais casual, moletom e jeans.
— Vai na casa da sua tia agora, Tasha? – Perguntou Pepper.
— Vou. Preciso ir conversar com ela, deve estar preocupada.
— É verdade, ela te ligou várias vezes durante esses meses. Quer que eu vá junto?
— Sim. Ela também gosta de te ver. Vamos – Pego meu casaco de moletom, o jogo sob o ombro direito e vou andando.
Pepper e eu pegamos um jato para Washington. Eu precisava visita-la, ainda mais naquele momento. Peggy ainda vivia na casa em que morou quando se casou. Quando cheguei ela estava lá deitada em sua cama, os cabelos completamente brancos. A enfermeira lhe servia um remédio. Surgi timidamente na porta, ao me ver ela olhou para mim dando um suspiro de alívio.
— Você é mais durona do que eu pensei. – Ela disse e eu balancei a cabeça positivamente. A voz dela já soava fraca pela idade. – Devia estar descansando. Devia ter ido ao hospital assim que pousou.
— Eu precisava fazer aquilo, tia Peg. – Me sentei na cama e a abracei quando ela estendeu os braços.
— Precisou de muita coragem para fazer aquilo. Eu sempre soube que você tinha essa coragem.
— Mesmo que eu perca tudo, tia. Mesmo que eu perca tudo eu não admito mais que meu nome seja associado à morte e destruição. Que meu pai me perdoe de onde ele estiver, mas acredito que tenho muito mais a oferecer à este mundo.
— Claro que tem, eu vi seu discurso na TV.
Ela sentou-se na cama, levou as mãos à minha cabeça e a deitou em seu colo, como costumava fazer como eu era criança.
— Minha pequena. Eu conheci bem seu pai e posso imaginar que ele iria concordar com sua decisão. – Ela disse, me afagando os cabelos negros.
— Mas como eu vou prosseguir? O que vou fazer?
— A resposta está em você, Tasha. Não se subestime. Você vem de uma linhagem especial. Tem o sangue de uma das mais brilhantes mentes que já conheci. Mesmo com seus... defeitos. – Nós duas gargalhávamos.
Naquela hora me identifiquei com meu pai quanto aos meus vários relacionamentos. Eu era como ele, não me apegava á ninguém e nunca cheguei perto de um relacionamento sério, seja com homens ou com mulheres nem agora com Johnny, com uma loura arrasa-quarteirão em Massachussets e nem com o pai da minha filha.
— Você jamais será a mesma. Não depois do que aconteceu. Uma nova mulher nasceu dentro de você e agora o mundo precisa dela. – Disse Peggy enquanto eu absorvia cada palavra.
— O mundo, precisa de mim?
— Sim. Como um dia precisou do Capitão América.
— Não sou uma heroína, tia Peggy...
— Há diversas formas de salvar o mundo. E sei que descobrirá uma forma de fazê-lo. Descubra o que essa nova mulher que nasceu em você pode fazer.
— Obrigada, tia Peggy. – A abracei mais uma vez. – Adoraria ter você lá em casa sempre me dando esses conselhos.
— Eu também, mas infelizmente acho que não tenho mais saúde para viagens longas.
— E nem deve mais se preocupar com isso. Sabe que posso vim vê-la quando quiser, não?
— Sei sim, e também sei que tem uma empresa para gerir. E não só a empresa. – Peggy começou a tossir e eu lhe dei um copo de água.
Enquanto ela tomava a água eu olhava os retratos antigos em cima do criado mudo, retratando os tempos de juventude dela. Ela viveu a vida dela, isso eu sei, mas por mais que ela tivesse tido filhos com seu marido e vivido conforme o que se esperava de uma mulher na época, eu sinto que ela nunca esqueceu Rogers. De repente eu me peguei imaginando como teria sido a vida deles
— Tasha. – Pepper entrou no quarto timidamente. – Desculpe o incômodo, mas é que já está ficando tarde. O Jarvis já está perguntando...
— Tudo bem, Pepper, já estou indo. – Respondi olhando para a ruiva.
— Srta. Potts? – Cumprimentou Peggy meneando a cabeça e fazendo uma careta ao tentar se lembrar de seu nome.
— Sim, Pepper Potts, agente Carter. – Pepper respondeu sorrindo.
Levantei-me da cama dela após ter beijado sua testa carinhosamente. Visitá-la sempre me fazia muito bem, eu me sentia renovada por dentro, uma paz que eu não conseguia explicar. De volta à Malibu, Pepper assistia a um programa ridículo que zombava do fato de minha empresa mudar seu segmento para algo que não prejudicasse mais tanto as pessoas. Eu definitivamente não entendo porque Pepper assiste esse tipo de coisa. Enquanto isso eu estava penando no banheiro para trocar meu reator por uma atualização que eu acabei de fazer. Um outro reator.
Eu sentia um fio tocar minha parede interna e aquilo me incomodava, além de causar alguns outros problemas técnicos. Preferi não chamar Pepper, apesar de mantê-la por perto caso algo desse errado. Removi o fio de Cobre com toda delicadeza, olhando para o espelho que pus perto da banheira, onde eu havia me deitado para realizar a operação. Eu Iluminava o buraco em meu peito com a ajuda de uma lanterninha. Nojinho tocar naquela gosma, amiguinhos. Meu coração batia forte o tempo inteiro, muita adrenalina, chega de meter Pepper em situações constrangedoras. Consegui por fim colocar o novo reator no peito com o maior cuidado, e nisso Pepper surgiu na porta arregalando os olhos.
— Ai meu Deus, o que está fazendo? – Ela chegou bem na hora em que eu estava encaixando-o.
Encarei seu olhar acusatório e senti algo esbarrar na parede interna, provocando um leve choque. – Ahhh...
— Pare com isso agora... – A ruiva levou as mãos à cabeça.
— Calma, calma... – Encaixo o reator e volto a respirar tranquila, depois de me aproximar do que parecia ser uma parada cardíaca. Logo depois viro meu pescoço para encarar Pepper e dou uma risada.
— E você ainda ri? Oh meu Deus... – Ela cruza os braços, balançando a cabeça negativamente. – Nunca mais faça isso... – Ela disse pausadamente.
— Eu sei me virar, Pepper.
— Eu sei, mas não precisa agir como se sempre estivesse só.
Ficamos em silêncio durante uns quatro segundos, depois eu saí da banheira, coloquei o espelho de volta ao seu lugar de origem e fui à pia lavar as mãos.
— O que eu faço com isso? – Pepper perguntou, segurando o reator que eu havia tirado.
— Ah, sei lá. Destrói.
— Tem certeza?
— Já fui chamada de muitas coisas, menos de nostálgica.
— Certo... – Pepper afastou-se, levando consigo o reator brilhante em sua mão.
“Uma nova mulher nasceu dentro de você”

Aquela era mais uma das inúmeras frases de Peggy Carter que ecoava em minha cabeça por horas e horas. Desde pequena eu as ouvia com determinada frequência sempre em momentos decisivos e agora... bem, agora com certeza eu estava em um dos momentos mais importantes da minha vida. Entrei em minha oficina, na parte inferior da mansão, determinada a iniciar meu novo projeto. Ou pensavam que eu pararia depois do que eu e Yinsen fizemos na caverna?
Um teclado iluminado em azul surgiu diante de minhas mãos e eu digitava, ativando um programa que servia para elaboração de projetos e exibia tudo em 3d.
— Jarvis, tá aí? – Perguntei.
— Sempre para a senhorita.
Eu vou fazer um novo projeto, Jarvis. Abra um novo arquivo e o nomeie como... – Pensava em um bom nome, fazendo um certo esforço com as têmporas quando a minha Jukebox, logo atrás começou a tocar uma música da banda de rock Heart, Barracuda. – Barracuda 2, Jarvis. Que tal?
— Faço um back-up no computador central das Indústrias Stark?
— Não. Não sei mais em quem podemos confiar. – Deslizei o arquivo em forma de holograma até uma plataforma – Então até segunda ordem, mantenha-o em meu servidor pessoal.
— Isto é um projeto secreto, senhorita?
— Mais do que secreto, Jarvis. Diferente de tudo o que já fiz antes, isso não irá parar nas mãos erradas. - Manipulava a figura que se formava à minha frente. A armadura que fiz na caverna e que me auxiliou a fugir de lá.
Enquanto eu fitava a figura, olhando cada detalhe, imaginando uma atualização da engenhoca, A primeira versão da armadura me fazia lembrar, com uma certa dor, Yinsen, Khadija e os demais que faleceram para que eu voltasse para casa sã e salva. Eu dei um sorriso ao pensar que meu amigo agora devia estar feliz ao rever sua família onde quer que estiver. Enquanto eu manipulava o projeto eu dei um sorriso meio triste e uma pequena lágrima caiu em meu rosto.
— Está se sentindo bem, senhorita? – Perguntou Jarvis. Ele podia detectar sentimentos nas pessoas. Eu mesma o projetei assim para ele prever as reações dos humanos.
— Sim, Estou. – Balancei a cabeça positivamente, enxugando meu rosto.
— Estava lembrando de seus entes queridos?
— Sim. Por isso preciso desse projeto. – A minha voz estava levemente embargada pela emoção. – Eu vou dedicar isso a eles.
— É uma bela iniciativa.
Os dias passavam e eu continuava empenhada na criação de uma nova armadura. Um novo projeto que desta vez serviria para o bem. Em meu laboratório, eu tinha uma infinidade de recursos, atrelados à minha mente totalmente nerd. Eu iniciei com as botas, desenvolvendo um sistema propulsor e trabalhando na articulação. Quando as duas botas à jato ficaram prontas, iniciei os testes. Meu braço mecânico atrapalhado “coisinha” ficava ao lado para acionar o extintor de incêndio. Eu deixei uma câmera gravando meus testes.
— Tudo bem, vamo lá. Direitinho. – Eu dava passos cuidadosos pelo espaço. Vestia uma blusa preta sem manga e uma calça cinza. As botas em meus pés e um fio ligando as ao reator em meu peito. Eu segurava dispositivos metálicos com cabos também conectados ao reator, que acionavam os propulsores se pressionados. – Para o caso de incêndio fique atento, coisinha. – Dei a ordem para o começo da filmagem, fiz um pequeno alongamento com os pés e ativei o controle de mãos.
Com apenas dez por cento da capacidade eu fui jogada contra a parede e Coisinha me jorrou um jato de ar gelado. Ajustaria as botas depois, continuei o projeto e fiz as manoplas com o propulsor de energia no computador, que logo se tornaram realidade em uma mesa e meu braço no meio, testando os movimentos. Obadiah apareceu na tela de meu computador, após voltar de uma reunião do conselho, exigindo minhas respostas sobre os novos rumos que a empresa tomaria. Aquele assunto me enchia, ele não tinha me dito pra sair de cena? Era o que eu estava fazendo. Estresse pós-traumático? Ações caindo? Por isso querem me tirar da presidência de minha própria empresa? Dá um tempo.
— Estão argumentando que você e sua nova filosofia...
— Prejudica os interesses da companhia. Sei, Obie. Conheço todo esse bla bla bla corporativo. Acontece que agora estou sendo mais responsável, eu quero e preciso obter mais controle sobre meu trabalho. O poder que tenho é perigoso demais para ser mal manuseado. Eu em nome da companhia.
— Tasha, me escute...
— Agora se não se importar preciso continuar meu trabalho. Passar bem, Obadiah. – Estendi a mão para tocar na tela, interrompendo a conversa, mas ele insistiu.
— Me escute. Eu estou tentando reverter a situação, mas precisa me dar algum retorno para acalmar os ânimos. Deixe os engenheiros fazerem uma análise. Elaborarem umas especificações.
— Não. – Fui incisiva, mas não falei alto. – Eu já falei. É uma coisa minha, fica comigo. Esquece. – Toquei a tela e o rosto dele sumiu.
Realizei mais um teste nos dias que se seguiram, utilizando as botas e as luvas.
— Décimo primeiro dia, trigésimo teste, configuração dois ponto zero. – Eu dizia em frente à câmera para meu “diário de bordo”. Me virei para o meu braço mecânico atrapalhado e o alertei. – Se tu borrifar de novo essa coisa gelada em cima de mim vou doar você pra uma faculdade.
— Certo... – Me posicionei abrindo os braços e as pernas, deixando o caminho livre para os propulsores. – Vou começar com um por cento da capacidade... Três, dois, um, lá vai
Eu consegui uma flutuação suave e estável com apenas aquela pequena parte da energia. Eu estava toda cheia de aparelhos, era uma máquina humana. Eu pousei e iniciei um teste com dois virgula cinco por cento e desta vez eu voei mais alto, sentindo a potência dos propulsores. Poeira foi levantada e eu fui me guiando, mas acabei pairando em cima dos carros. Droga, eu não estava nem um pouco a fim de estraga-los. Passei voando em cima da mesa, fazendo os papéis voarem, freei meu avanço com os propulsores de mão, estendendo as mãos para frente. Fui tentando estabilizar novamente o voo, até que adquiri equilíbrio e pousei novamente.
— Ôooo... – Impedi a coisinha de me borrifar mais uma rajada.
“Eu sei voar”


CONTINUA...

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