Laços Defeituosos | 1x03 - "Reencontros de Sangue"


Uma obra de: Sergio Rojas Muñoz
Adaptada por: Aashley




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FADE IN.

CENA 01. CASA DE GERMANO - QUARTO DE DIEGO - INT. / 20:03.
Diana sentada na cama de DIego, completamente indignada. Ele, sentado ao lado dela, a consola, sem muito êxito.
DIANA - (gritando, raivosa) Imbecil! Mentiroso! (golpeia o peito de Diego) Mentiu pra mim, seu merda! Aproveitou da situação e eu caí como uma pata! Como que eu fui acreditar em você?!
DIEGO - Dianinha, juro que eu não tinha ideia disso Tô tão chocado quanto você! Não esperava algo assim!
DIANA - Mentira! É certo que sabia disso antes de mim, e fez todo esse show de casamento falso para aumentar seu ego de pseudo machinho na frente de seu pai e teus amiguinhos de merda! Nós, mulheres, temos um sexto sentido e ele tá me gritando histericamente que você sabia de tudo isso, sua cadelinha baitola!
DIEGO - Para, Diana… PARA! (pega-a pelos braços, severo) Olha no meu olho e para de falar merda, por favor! Seu sexto sentido tá mais atarefado que seu gaydar. Você mesma ouviu meu pai dizer que aquilo foi meu presente de casamento. Eu poderia brincar com qualquer coisa, e você sabe muito bem disso, mas não com a vida do meu pai. Agora me responda uma coisa: Por que e para que eu teria mentido pra você, se sabe que sou aquele que pode perder o jogo? (Diana acalma-se e ele apresenta um leve sorriso) Eu montei tudo isso por ele e seu último desejo. Era o mínimo que eu poderia fazer para lhe retribuir de alguma maneira tudo o que fez por mim. E fiquei tão surpreso com isso quanto você, e me alegra notícia… mas ao mesmo tempo, compreendo você. Mas, vamos nos acalmar. Vamos acalmar.
O local se silencia por alguns segundos.
DIANA - Bem… Bem, Diego, desculpa, me equivoquei. Me deixei levar por uma crise de pânico (franze a testa) Mas me entenda, gatinho. Cê se deu conta no joguinho que a gente se meteu agora? Hein?
DIEGO - É que… Não sei… Eu sei que com isso tudo muda radicalmente, mas só sei que nada sei e que…
DIANA - Diego! (pega o rosto de Diego) Estamos CA-SA-DOS. Somos um casal, de mentira, mas um casal, para a grande maioria e agora sem data concreta de vencimento. Tudo por sua culpa.
DIEGO - Bem, gatinha, não é tão…
DIANA - Diego Souper, agora você vai me ouvir, porque agora tenho as cartas na manga e você sabe muito bem isso. Eu não vou aguentar sustentar essa mentira por muito tempo. Sinto muito, eu decidi ajudar você com uma clara condição, agora isso mudou e vai ter que arrumar essa merda o mais rápido possível, senão eu mesma serei obrigada a arrumar. Sinto muito, DIego, cê é meu amigo de alma, mas um casamento e um suposto filho são palavras maiores e eu não tô disposta a fazer minha vida girar em torno das suas mentiras. Okay?
DIEGO - Mas, Diana, você…
DIANA - Mas nada, viado! Eu não vou arruinar minha vida inteira por um capricho adolescente tardio. Agora você vai ir falar com seu pai, vai devolver as chaves da casa, porque está ciente de que não merece, e vai contar toda a verdade. Ok?
Nesse instante a porta abre-se e Diana e Diego ficam surpresos ao ver Germano olhando-os, sem reação.

CENA 02. PENSÃO “LAS GUACHAS DEL VALLE” - QUARTO DE JAVIER - INT. 20:12.
Entre os numerosos quartos da pensão, a cargo das amigas Maria Regina e Maria Violeta, está o bagunçado quarto de Javier, o filho desta última.
O jovem de 20 anos, concentrado e bem vestido, encontra-se olhando por seu binóculos o pátio da casa da vizinha, onde vivem Susana e Diana. Em seguida ele caminha até o espelho e ajeita seu penteado.
JAVIER - O horóscopo me assegurou que hoje seria o dia ideal para me atrever e me jogar de uma vez por todas em meu verdadeiro amor. Aliás, minha mãe sempre disse que eu sou o cara mais lindo da casa. Tenho todas as chances de conseguir. SEJA HOMEM, XAVINHO!
Javier olha para sua cama, onde vê-se uma silhueta feminina, franzindo a testa, com decisão.
JAVIER - Não! Não, não! É hora de amadurecer e minha relação com você não dá mais. Cê sabe muito bem. Não poderá me atar a ti novamente, Margareth. Nossa relação me faz dependente e eu não posso seguir assim. Preciso de alguém de verdade. Agora você é passado e pisado, bebê.
Javier pega o ramo de flores que estava no chão e rapidamente sai do quarto, dando um forte suspiro.

CENA 03. CASA DE GERMANO - QUARTO DE DIEGO - INT. - 20:12.
Germano segue observando-os sem emitir nenhuma palavra, até que tira os fones de ouvido que está utilizando, fazendo com que Diego respire fundo, tranquilo.
GERMANO - Perdão por assustá-los. É que sempre me dão uns espasmos assim… acaba que não posso me mover por uns segundos. (pausa) Aconteceu algum problema, queridos?
DIANA - Sim, seu Germano… Acontece que eu não posso ir viver na casa que o senhor nos presenteou porque eu já…
DIEGO - Porque eu já havia comprado uma casa pra mim e Diana, pai! (abraça Diana, para mantê-la em silêncio) Pai, eu não quis dizer isso antes. Por essa razão não posso aceitar o presente que você me deu! Espero que não fique chateado, coroa.
Nesse mesmo instante, Susana entra, em silêncio, ficando ao lado da porta. Germano, leva suas mãos ao rosto, emocionado, e depois dá um grande abraço em Diego. Diana, furiosa, se aproxima de Susana.
GERMANO - Campeão, campeão, campeão… Como vou ficar chateado com algo assim? Tenho o melhor filho do mundo. Isso só vem se destacando com vermelho e negrito, o quão grande que você é como pessoa e que minha árvore deu um belo fruto, os resultados que sempre esperei.
DIANA - (ao ouvido de Susana) Isso é muito pra mim. Você acredita que esse idiota inventou que nossa casa foi ele quem comprou? Maldito seja o dia em que eu aceitei isso! Um sínico de merda de quinta categoria! Vou cagar Susana, é isso que vou fazer.
SUSANA - Sério? Bem…. relaxa. Cê sabe que Diego faz tudo isso por amor ao pai. Ou vai condenar o menino por ter bons sentimentos? O amor e a gratidão que Diego sente por seu Gê é tão grande que rompe tudo o que é correto e incorreto, do moralmente questionável, por uma nobre e boa razão.
DIANA - No que cê tá metida, Susana? (pausa) Agora mentir, “tomar posse” de uma casa, fazer com que outra pessoa viva de ilusões, mostrando-a uma vida falsa e destruir um casamento, é “eticamente aceitável”? E o que acontece com as nossas vidas? E o que acontece com a liberdade?
SUSANA - Bem, temos que assumir o custo que há em realizar nosso sonho. A única coisa que está claro pra mim é que tudo isso não destruiu nenhum casamento, já que a única união legítima em todo esse conto é o nosso, o qual segue mais sólido que nunca nessa base de amor que jamais se destruirá. (sorri) Além disso, tudo está muito fresco, há uns minutos nos enteramos das coisas, minha vida… Deixemos que o impacto da notícia passe e assim pensamos com mais calma pra resolver as coisas com a cabeça fria. Não acredita que é melhor e assim ninguém sai prejudicado?
Diana engole a saliva, mas mais tranquila por ver Susana relaxada com a situação.

CENA 04. RUA - CASA DE DIANA E SUSANA - EXT. - 20:57.
Javier espera a chegada de Diana, sentado na calçada, tremendo um pouco de frio. Em seguida, Maria Violeta, junto a Maria Regina e a filha desta, Cony Camila, chegam com sacolas nas mãos e o encontram na rua.
MARIA VIOLETA - O que cê tá fazendo aqui? Tá sapeando a vizinha de novo, seu voyeurista de merda?
JAVIER - Cala a boca, mãe. Fica quieta, não tá vendo que fico nervoso e me desconcentra? (olhando para a esquina) Me deixa quieto e entra em casa, é melhor.
Nesse momento, Javier põe-se de pé, pega o ramo de flores, arruma sua gravata e põe-se em frente a casa de Diana. O ramo de flores cai no chão quando vê Diana e Diego de mãos dadas. As Marias e Cony Camila, surpresas, começaram cochichar mais atrás.
MARIA VIOLETA - (para Maria Regina) Olha como ficou meu pobre Javier. Eu já tinha dito várias vezes que esquecesse essa estúpida ideia de conquistar a vizinha. Mas assim são os homens…
MARIA REGINA - E essa sem vergonha, quando se casou? (leva as mãos à boca e ri)
MARIA VIOLETA - Não se deu conta que foi recém? Porque veio com o traje de noiva.
Cony Camila, desapontada, dá meia volta e vai pra casa, calada.
MARIA VIOLETA - E Cony, o que houve? Tá com diarreia de novo?
As Marias se olham e riem, caminhando até sua casa. Javier, no entanto, dá meia volta com os olhos lacrimejando.

CENA 05. PENSÃO “LAS GUACHAS DEL VALLE” - QUARTO DE JAVIER - INT. - 21:13.
Javier, chorando, arrependido, entra no quarto, jogando-se sobre a cama, abraçando a silhueta feminina que permanece intacta no lugar.
JAVIER - Me perdoa! Me perdoa, por favor! Me desculpe, minha Margareth. Me perdoa por ter sido tão duro com você e ter dito tais palavras que não merecia. Agora entendo que só você é merecedora do meu carinho! Não sou digno da sua fidelidade!
Xavier abraça a boneca e começa a inflá-la, ao notar que faltava um pouco de ar.
JAVIER - Se casou! Você acredita que minha Diana se casou com esse esquisito? Nunca mais te ignorarei, bebê! Eu prometo, Margareth! MARGAREEEETH!

CENA 06. CASA DE DIANA E SUSANA - INT. - 21:15.
A radiante expressão de Germano se apaga quando entra na casa que Diego supostamente havia comprado e nota que estava tudo uma bagunça. Diana, caminha rapidamente até seu quarto pra tirar o vestido de noiva.
GERMANO - Essa é a casinha que comprou, querido filho? É muito… muito… (pausa) acolhedora. Mas enfim, a casa que presenteei a vocês é muito mais ampla e em um setor muito… muito mais seguro.
Diana volta à sala.
DIANA - Muito obrigada, seu Germano. Não tenho intenção de sair daqui. Onde estou agora me sinto muito bem e acredito que isso basta.
Diego caminha até a cozinha para falar com Diana, em voz baixa, e caminham até o quarto. Germano, na sala de estar, pegava as coisas e observava com grande atenção. No quarto…
DIEGO - Poderia ser um pouquinho mais organizado, pelo menos. Isso tá uma imundícia e sabe bem que meu pai não suporta bagunça!
DIANA - Perdão? Essa é a minha casa e faço e desfaço aqui o que me der na telha! Se você gosta de brincar de mentirinha, agora perceba como você brinca pra não sair ferido!
DIEGO - Idiota….
DIANA - Não me venha com gracinha, Diego. Muito menos agora que não tô com cabeza pra mais correntes e posso explodir a qualquer momento. Estou advertindo. ESTOU TE AMEAÇANDO, melhor dizendo. Então, diminui a velocidade, bobinho. Diminui.
DIEGO - Mas… Diana, você é minha melhor amiga e…
DIANA - Por isso mesmo, Diego. Por isso mesmo tenho um pouco de consideração com você. (olha fixamente a ele) Agora mesmo eu poderia ir lá na sala, onde tá o coroa, e daria um beijo na minha esposa e de passagem o convidaria pra ver o álbum de fotos do nosso casamento na Argentina, enquanto conto todas as coisas que seu filhinho macho politicamente correto manipulou para mantê-lo estúpida e ridiculamente contente… Por uma coisa sem sentido! Por uma ridícula promessa sem pé nem cabeça!
DIEGO - Talvez pra você não tenha sentido, Diana, mas pra ele tem; e pra ele essa promessa ridícula, como você diz, é sua razão de vida, e também será pra mim!
Ambos se olham por um tempo, chateados.

CENA 07. PENSÃO “LAS GUACHAS DEL VALLE” - QUARTO DE CONY CAMILA - INT. - 21:15.
Quarto arrumado e bem decorado, completamente diferente do de meio-irmão Javier. Cony encontra-se sentada em sua cama, com muita pena, sem saber se chora ou não. Logo, entra sua mãe, sentando-se ao seu lado, que mudou seu olhar para não demonstrar sofrimento.
MARIA REGINA - O que houve, coração? (pausa) É ele, né? Esse é o ‘guachon’ pelo qual você anda tão quente e abobada?
Cony Camila sentia a angústia aumentar cada vez mais, até que não pode conter mais o choro e abraça sua mãe.
CONY - (sussurra) Mãe… Nunca pensei ver algo assim!
MARIA REGINA - Mas é ele ou não? Esse é o ‘cabrón’ que você tá apaixonada como as gatas em agosto, filha?
CONY - Sim, mãe. (chora, recebendo abraço de Regina) É o Diego. Tô apaixonada por ele desde a festa do ano passado… Não sei como, na real. Ele tem tudo o que eu busco. Ele é educado, sorridente, lindo, terno… mas lamentavelmente comprometido. Mas é ele, mamá… Sinto aqui no meu coração que ele é o homem que sempre busquei minha vida toda.
Regina põe-se de pé, suspirando fortemente.
MARIA REGINA - Mas, coração… Por que então nunca me disse nada? Agora está na questão da fidelidade, mas você poderia ter pego ele em alguma festa. Era só agarrar e pronto!
CONY - (grita, rindo) Mãe! (pausa) A senhora sabe que eu não sou assim. A senhora me conhece e sabe do meu sonho…
MARIA REGINA - Sim, sei do seu sonho de dar seu primeiro beijo com o homem ideal (caminha pelo cômodo) Essas coisas nem na minha época se cumpriam, coração. (ri)
Cony Camila, com olhar triste, observa por um tempo a Regina, que voltou a sentar-se ao lado dela.
MARIA REGINA - Uma vez prometi ajuda a você. Lembra quando peguei você escrevendo cartas ao seu príncipe azul, que no final era imaginário? (ri, suavemente)
CONY - Ai, mãe, não faça me lembrar dessas coisas tão ridículas…
MARIA REGINA - Você tinha 16 anos… Nesta vez me contou esse sonho que tinha, e cê sabe que prometi, coração, que quando encontrasse aquele homem ao qual você entregaria seus lábios, eu mesma ia ajudar a conseguir o encontro, garotinha de merda (dá um tapa de leve na perna de Cony, rindo)
CONY - Mas isso agora é impossível, mãe. Você viu que ele se casou com a louca da Diana.
MARIA REGINA - Ah, meu amor. Está casado, claro, mas não morto, coração…
CONY - Mãe… (sorri, surpresa)
MARIA REGINA - Então, quem é mais importante pra mim? A criatura que eu pari e crio há 20 anos, ou a esquisita vizinha a quem apenas cumprimento?
CONY - Eu, óbvio (ri)
MARIA REGINA - Então, não quero que seja solteirona como eu, muito menos por uma idiotice. Então, o que prometi vou cumprir, coração. Com a minha ajuda, você vai acabar agarrando ele, pegando gosto da coisa e vai esquecer dessa coisa ridícula que você tem em mente, eu juro.
Cony, esperançosa. Regina, então, põe-se de pé pra sair do quarto, piscando um olho, em sinal de apoio a sua filha.

CENA 08. CASA DE SUSANA E DIANA - SALA DE ESTAR - INT. - 21:26
Diego abraça Germano, que está a ponto de retirar-se. Diana, enquanto isso, lva a louça na cozinha, sendo quase indiferente a tudo que acontece. Susana e Ignacio, distanciados um do outro, observam a situação sem emitir uma palavra.
DIEGO - Coroa, já está tarde. Sobre a sua recuperação, quero esclarecer algumas dúvidas amanhã de manhã. Mas, de qualquer forma, estou muito feliz de ter tido essa notícia. Muito obrigado por vir me deixar aqui. Na verdade tô bem cansado.
GERMANO - Bem, a lua-de-mel se vive uma vez na vida (ri, pausa) Vocês não tinham uma reserva no hotel do cassino pra lua-de-mel? (pausa) Foi minha culpa que tudo tenha terminado assim?
DIEGO - Não se preocupe, coroa. Mais tarde iremos. Não se preocupe, de verdade. Vá dormir que o senhor está cansado. Foi um dia extremamente cansativo.
GERMANO - Entendo. (vira-se à Susana) E você, amiga da minha nora, levo-a até sua casa… Aproveita a carona?
Susana, confusa, olha a Diego.
DIEGO - Coroa, a Susana vai ficar aqui porque ela aluga a peça dos fundos. Então, não se preocupe com ela.
GERMANO - Não havia me contado esse detalhe, campeão, mas entendo. (pausa) Então, você vem comigo, Ignacio. Vamos pra casa. Vamos pra que me ajude a regar os mamões.
Ignacio, boquiaberto e desorientado, olha para Diego, nervoso.
DIEGO - Coroa… Ignacio não pode ir pra casa também.
GERMANO - Por quê? Você casou com Diana, não com ignacio. Não há impedimentos para que ele siga vivendo na minha casa só porque você teve que sair.
DIEGO - É que… pai… Ignacio…
GERMANO - Ignacio, o quê?
DIEGO - Ignacio está com Susana, coroa. Susana é a namorada escondida que meu mano tem.
SUSANA/IGNACIO - Quê?!
Germano leva suas mãos à boca e soluça.
DIEGO - É justo e necessário, galera. (abraça os dois, fazendo-os calar-se) Era preciso que meu pai soubesse. Aliás, se notava de longe! Viviam seu amor em liberdade!
SUSANA - (grita) Eu, com esse porco asqueroso, jamais! JAMAIS!
Germano fica completamente boquiaberto com a situação, enquanto Diego tenta controlar seus nervos. Podia-se perceber Diana, de longe, olhando para o teto, clamando por paciência.
DIEGO - Estão brigados, eles, coroa. É por isso que meu mano deve ficar aqui, pra que possa solucionar os problemas com Susana. Agora me entende?
Germano, assustado, se aproxima lentamente ao nervoso Ignacio.
GERMANO - (ao ouvido de Ignacio) Vou lhe recomendar algo, amigo do meu filho… Vai pro seu quarto e vai com tudo, é disso que necessita. Acredite. Está desesperada por uns carinhos.
Ignacio esboça um tímido sorriso, enquanto Germano se despede, dá-lhe uma piscada de olho, e sai. Diego respira fundo, aliviado.

CENA 09. PENSÃO “LAS GUACHAS DEL VALLE” - COZINHA - INT. - 21:41.
Maria Regina está picando verduras e se assusta ao escutar um forte grito de Violeta.
MARIA VIOLETA (V.O.) - (grita) Gina, maluca, vem cá!
Regina vai até a recepção, limpando suas mãos.
MARIA REGINA - O que houve? Está gritando como um animal sendo assassinado.
MARIA VIOLETA - Que nada! Adivinha quem vi quando estava voltando aqui pra dentro?
MARIA REGINA - Quem? A velha que anda por aí roubando dinheiro?
MARIA VIOLETA - Não, lesada! Eu vi ele! No carro que acabou de dobrar a esquina! Acabou de sair da casa das vizinhas!
MARIA REGINA - E quem diabos é esse homem que tá te deixando assim, nervosa? É o Yan Filip, por acaso?
MARIA VIOLETA - Era o Germano! (angustiada) Eu o vi, comadre. Tá mais avarento que antes, mas o vi, aqui, mesmo que de passagem…
MARIA REGINA - Ai, não acredito…
MARIA VIOLETA - Mas isso não é o mais importante. Ele estava acompanhado de dois caras. Um loiro e um de perna peluda com a magricela ao lado.
Regina, impressionada, sente um calafrio. Ela ouve Cony chamá-la.

CENA 10. PENSÃO “LAS GUACHAS DEL VALLE” - QUARTO DE CONY - INT. - 21:55.
Cony Camila deitada na cama com seu notebook no colo. Regina entra.
MARIA REGINA - Cony Camila, posso fazer uma pergunta antes que me diga o que tiver que dizer? É que não vou conseguir dormir com essa coisa entalada na garganta…
CONY - Diga, mãe. Aconteceu algo de ruim? (deixa o notebook de lado) Mas vou primeiro contar porque lhe chamei… Quero convidar Diego pra comer aqui! O que você acha?
MARIA REGINA - (surpresa) Sério?
CONY - Claro, mãe.
MARIA REGINA - Justamente o que quero perguntar tem relação com ele. (senta-se ao lado da garota)
CONY - Sério? (sorri, esperançosa) Gostou da ideia de convidar ele? Estava pensando em fazer uma pantruca ou um bolo de chocolate. Tô feliz porque agora vamos estar mais próximos! E não me interessa se está preso por Diana. Você me motivou. Então, quero convidá-lo, para dar boas-vindas à passagem, sem outras intenções, por agora.
MARIA REGINA - Então, coração. Como você sabe que ele virá morar aqui ao lado? Como tem essa informação?
CONY - Ele acabou de publicar no Facebook e no Snapchat, mãe. Olha como ele é lindo no filtro de cachorrinho. (mostra o snap) E, também, vi ele com malas, quando chegou.
MARIA REGINA - Cony Camila… Esse cavalheiro que vinha com ele, é o pai de Diego, certo?
CONY - Sim, ele mesmo. (Regina assombrada) Aconteceu algo?
MARIA REGINA - E o outro cara, o loiro, o que é de Diego?
CONY - É o seu melhor amigo. Se chama Ignacio. Esse loiro sempre busca Diego depois das aulas da universidade e andam sempre juntos por aí. Vive na sua casa porque o loiro é de outra cidade, não tinha como ficar pra poder estudar, ou algo assim, pelo que soube.
MARIA REGINA - Ai, a psicopata, me dá medo, coração… E você sabe como se chama o pai de Diego?
CONY - Germano, parece… (pausa, pensativa) É. Germano Souper. E vive em El Milagro com Diego. Bem, vivia, porque agora meu príncipe dormirá só há uns metros de mim.
Regina fecha os olhos, tentando controlar seu medo para, logo, sorrir neutramente para Cony.
CONY - Tantas perguntas e não me respondeu o negócio da comida. Você me prometeu ajudar pra conseguir um beijo de Diego e tudo o mais. Vai me ajudar com o bolo de chocolate?
MARIA REGINA - Não sei, filha… (pega as mãos de Cony) Talvez ele não seja pra você. Não merecia algo mais seguro e melhor?
CONY - Mãe… Tá dando pra trás? (solta as mãos dela e o sorriso desaparece) Eu acabei de contar por quem sou apaixonada e você me prometeu ajudar como fosse. Você não pode pular fora!
MARIA REGINA - Não, tranquila. Tá tudo bem, coração.
Regina, angustiada, abraça Cony, tranquilizando-a. Cony Camila, aborrecida, não responde ao abraço.

CENA 11. CASA DE GERMANO - JARDIM - EXT. - 22:25.
Germano, sorridente, antes de entrar para casa dá um beijo em seus mamões no jardim. De repente, surpreende-se com um homem de braços fortes e cabelo despenteado no local.
HOMEM - Preciso falar com você, se der. Ou você tá muito ocupado com suas únicas amigas, os mamõezinhos?
GERMANO - Em que posso lhe ajudar, jovem forte e brasileiro?
HOMEM - Você é surdo, por acaso? (rompe a seriedade, com um leve sorriso) Quero falar com você sobre algo que tenho certeza de que vai lhe interessar… Melhor dizendo, vai lhe deixar gelado, carbonizado, perplexo.
Germano franze a testa, e olha profundamente nos olhos verdes severos do jovem, provocando-o um estranho deja ju.

CENA 12. CASA DE GERMANO - ESCRITÓRIO - INT. - 22:30.
Germano sentado. O jovem de pé, sorridente, olhando o grande quadro de Virgínia.
GERMANO - Sabe? Esse dia tá sendo praticamente perfeito, e acho que você tem uma parte importante pra terminar com chave de diamante. (sorridente) Fale, jovem forte.
HOMEM - Disso não tenha dúvidas. Tenho certeza que comigo, seu dia coroará como realmente inesquecível.
GERMANO - Mas enfim, vamos ao ponto importante. De que negócios veio me falar, jovem?
HOMEM - Mais que negócios, venho conversar sobre dívidas.
GERMANO - (estranhando) Dívidas?
HOMEM - Sim, dívidas. Esse cheiro a casamento recém realizado me fez dar conta que devo me sentir seguro, agora que estou um pouco vulnerável em meus “negócios”. Esse aroma a casamento de nível duvidoso fez com que nascesse em mim um sentimento de inseguridade, não sei como explicar… Tipo, provocou em mim a necessidade de reencontrar com o meu. Tipo, soou um alarme na minha cabeça e pá! Fez com que lembrasse que devo estar aqui agora em sua frente…
GERMANO - Quem é você? (desconcertado e um pouco assustado) Essas não parecem palavras de negócios.
HOMEM - Soube que você não vai ao pátio dos calados… (franze a testa) Que notícia mais… inesperada
GERMANO - Me responda, quem você é? Qual seu CPF, garoto? De onde veio? Não tô gostando da forma que cê tá se expressando frente a mim e na minha casa.
HOMEM - Não me reconhece? (aproxima-se da mesa, quase ameaçante) Que feio, que feio, senhor Souper. E eu que tinha a pequena esperança de crer que ia me abraçar, não sei, ia me perguntar como estou, ao menos, no momento de me ver novamente… Pensei que deixaria sair todo esse carinho sanguíneo que leva acumulado dentro de si depois de tantos anos.
Germano apaga qualquer feição feliz do rosto, traga saliva e olha fixamente ao homem.
HOMEM - Sou Rodrigo. Rodrigo Souper. Seu filho. O filho que largou por ser homossexual. Agora estou voltando e venho buscar o que é meu e de absolutamente ninguém mais.
Germano fica completamente impactado com a confissão, perdendo a fala e o movimento por um instante. Grande tensão final.

CONTINUA...

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