Lúcius | 1x05: "Traumatizado"


Uma obra de: Dolfenian Khallium


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*indisponível*



Um encara o outro em meio aquela sala durante a sessão de terapia. Um momento de tensão. Lúcio batia os pés demonstrando o quão ansioso está. Já Rafael tenta não lembrar da cena que seu amigo viu.
— Estamos a 15 minutos em silêncio, o que significa que algo aconteceu, vocês vieram pra cá por isso, então quem vai ser o primeiro a falar? — O terapeuta pergunta pressionando o botão da caneta.
Lúcio está realmente bem ansioso, não conseguia apagar aquilo tudo da memória dele. Tentava pensar em outra coisa, como seu lobo que precisa ser alimentado ou em João que parece ser alguém legal, mas não dá.
— EU PEGUEI ELE TRANSANDO COM UMA GAROTA NO QUARTO! — Ele desabafa, até rápido demais, como se estivesse se livrando daquele peso, dando-lhe um alívio.
— Fala sério... foi só sexo! — Rafael responde. O silêncio havia sido quebrado.
— Pra você! Pra mim foram 3,7 segundos de pura tortura! T-O-R-T-U-R-A! E você sabe de onde eu vim! — Responde.
— Tá bem, eu deveria ter fechado a porta ou algo do tipo. Mas cara, as pessoas transam, se acostume com isso...
— Tava montado nela como um rodeio... — Sussurra virando seu rosto.
•••
É outro dia. Rafael teria acordado um pouco tarde. Se levanta, fazendo sua higiene normal. Coloca suas roupas e desce as escadas indo em direção à cozinha.
Chegando lá ele vê a cena. A televisão ligada em estática, Fenrir dormindo no tapete e Lúcio sentado no sofá encarando aquela imagem de chuvisco na TV com pavor nos olhos, enquanto segura uma xicara de chá tremendo sua mão.
Seus olhos estão esbugalhado e ele está concentrado na televisão como se realmente estivesse passando algo. A tremedeira em sua mão é tanta que chega a derramar um pouco de chá.
— Bom dia. — Diz Rafael indo em direção a geladeira.
O outro não responde, ainda traumatizado com a cena. Cansado de toda aquela situação, Rafael respira fundo e decide enfrentar o filho de Satã.
— Tá bem Lúcio, eu sei que foi ruim pra você ter visto aquilo, e que talvez você me olhe de uma forma diferente agora, mas cara, essas coisas acontecem... — Diz com calma se aproximando de seu amigo.
— A garota ainda tá aqui? — Ele pergunta sussurrando.
— Não, foi embora depois que o filho do Diabo olhou torto pra ela.
— Eu preciso me distrair... Vou sair um pouco, dá um banho no Fenrir.
•••
Amanda está na escola com suas amigas. Juntas formando as mais populares e desejadas da escola, e também as mais encrenqueiras.
Toda vez que passam por algum corredor, chamam atenção pela beleza e estilo.
As três passam agora por um corredor onde fica a sala da direção. Dando uma volta enquanto estão no intervalo da escola. Várias pessoas observam elas, e as garotas empinam o nariz, esbanjando toda a beleza.
Isso muda quando Amanda avista Leonardo saindo da sala do diretor. Bem triste e um pouco desapontado com algo. Coisas ruins aconteceram. Mas para ela, falar com alguém no nível dele na escola seria péssimo para a sua reputação mesmo ele claramente sendo muito bonito e bem malhado, ainda pegaria mal.
O garoto olha de volta para ela num curto espaço de segundos. Ela sabe que algo muito ruim aconteceu, e que ele precisava conversar, mas não podia ser na escola...
•••
É uma bela praça, bem verde com muitas pessoas. Conhecida como “Praça 19 de Dezembro”, o local recebe muitos turistas de fora. Várias pessoas encantadas com a beleza de Curitiba.
Lúcio está sentado em um banco de pedra de cabeça baixa. Espera o tempo passar ainda tentando se recuperar daquela imagem que passa em sua cabeça a cada 7 segundos.
— Posso me sentar aqui? — Pergunta uma voz masculina, calma e tímida.
Lúcio já teria ouvido aquela voz antes. Mas não lembrava de onde. Ao se virar, ele dá de cara com João que continua no mesmo clima depressivo de sempre. Usa um moletom preto com capuz, calça e sapatos de mesma cor. Pálido e tímido.
— Claro. — Lúcio responde surpreso, pensou que teria afastado o garoto a algum tempo.
João se senta ao lado de Lúcio naquele banco. Tira do bolso de seu moletom um pacote de salgadinhos. Abre e começa a devorar enquanto observa a natureza junto com o menino ao seu lado, em silêncio.
— Eu achei que tinha espantado você e que você me odiasse... — Diz Lúcio ainda olhando para a bela paisagem.
O outro respira fundo enquanto oferece um pouco de salgadinhos para Lúcio.
— Não me espantou, chamou a minha atenção... — Ele fala. — Não conheço você, e você não me conhece, logo não teria como você saber tudo aquilo que você disse sobre mim. Fiquei curioso.
Termina de falar limpando seus óculos.
— Você costuma vir sempre nesse lugar? — Pergunta Lúcio.
— Sempre que posso. Me deixa mais calmo. — Ele faz uma pausa. — Notei que você está diferente, ontem estava todo alegre, hoje parece que algo ruim aconteceu.
— Não exatamente, eu não sei ao certo. — Ele fala confuso. — Eu tenho um amigo, hétero, que eu acho muito atraente, mas pensei que não tinha uma queda por ele, até eu começar a sentir ciúmes. O cara acha que eu estou desse jeito, porque peguei ele transando com uma garota.
João respira fundo antes de responder. Nem ele sabia ao certo o que falar.
— Você tá gostando do seu amigo hétero... tem noção do quão clichê isso é? — Fala baixo quase como se estivesse sussurrando. Sua voz sai como se estivesse sendo forçada.
— Eu não gosto dele, eu só tenho uma queda por ele... Você é panssexual, sabe do que eu tô falando...
— Dá pra não me rotular? Eu odeio isso, e como você sabe tantas coisas sobre mim?
— Já disse, sou o filho de Lúcifer.
A reação dele não é de surpresa. Não teria nem mudado a palidez em seu rosto.
— Então prova. — Desafia.
— Você foi expulso de casa as 12 anos, quando seus pais descobriram que você gosta de homens. A única pessoa que te defendeu, foi alguém que você menos esperava. — Ele faz uma pausa. — Vitor, o cara que te provocava todos os dias na frente de todos na escola. Você foi pra um orfanato e foi adotado por um médico chamado Carlos, que te tratou com muito amor, coisa que você até então nunca tinha recebido. Ficou com receio de contar para Carlos sobre a sua orientação sexual e ser expulso novamente. Mas quando contou, ele não fez nada, e agiu naturalmente. O que te deixou muito surpreso. Mas você continua um pouco depressivo devido ao trauma de ter sido expulso de casa, não consegue se relacionar com as pessoas.
— Tá bom chega! — Fala João interrompendo. — Entendi, você é o que tá dizendo que é. Mas, para de falar por um segundo.
Tantas perguntas na cabeça do garoto. “Filho de Lúcifer? O que ele faz aqui? E por que não está fazendo algo ruim?”
— Eu não sou como os outros. Tirei férias e decidi curtir um pouco. Tendo uma vida humana por completo.
— Isso explica tudo. — Ele fala.
Lúcio não teria percebido, mas enquanto conversa com João ele esquece aos poucos da cena horrorosa que viu.
— Eu tenho que ir agora. — Diz João friamente se levantando.
— Está bem, eu te vejo novamente? — Pergunta o garoto.
— Talvez...
•••
Lúcio está voltando pra casa. Cruza uma rua, virando a esquina quando é surpreendido por algo. Thaís estaria lhe esperando, seus dedos estão molhados com água, as gotas caem no braço do garoto quando ela chacoalha sua mão propositalmente perto dele.
As gotas caídas no braço dele em questão de segundos evaporam. É água benta. Lúcio parece não ter se importado com o que acabou de acontecer, já Thaís o fita apavorada com a cena.
— Ha Ha, muito engraçado... — Ele diz com sarcasmo, bem sério.
— Você é o diabo, mesmo... — Ela fala quase gaguejando bem surpresa.
— Na realidade, sou o filho dele. E conselho rápido, caso você veja meu pai, não jogue água benta nele, o resultado não vai ser bom pra você. — Responde deixando a garota.
— Você quase matou aquele cara! — Ela grita.
— Tá falando do cara que tentou me assaltar? Eu deixei ele vivo de propósito. Agora eu tenho que ir. Tem uma louça me esperando. — Diz dando as costas para ela.
— Parado aí! — Ela grita sacando sua pistola e apontando para as costa dele.
O garoto se vira sem medo algum. Como se aquilo fosse a coisa mais comum do mundo.
— Isso não funcionou com ele, e você sabe o que aconteceu depois... Quer tentar também? — Ele faz uma pausa. — Eu agi em legítima defesa, não pode me prender.
— Não posso deixar solto por aí um demônio. — Responde.
— Tá, primeiro, quantas pessoas você jogou água benta me procurando? Segundo, estou aqui a 17 anos, e não fiz nenhum mal para a sociedade até agora. Terceiro, assalto atrás de você. E quarto, você não é uma exorcista!
— O que? — Pergunta franzindo a testa.
Um homem com o rosto coberto por um capuz se aproxima com uma faca na mão rapidamente na direção de Thaís.
— Perdeu, perdeu! — Ele fala anunciando o assalto.
O que ele não teria visto é que ela é uma policial. Um grande azar para ele nesse caso.
Ao se virar, ela encara o bandido, que fica surpreso ao ver a pistola nas mãos dela. Rapidamente começa a correr desistindo do assalto.
— Pega ele, tigresa. — Lúcio brinca sorrindo animado com a ação.
Thais mexe a cabeça negativamente. Mas decide ir atrás do homem que está correndo. Abandonando por um tempo Lúcio.

CONTINUA...

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