Lúcius | 1x08: "Ele Gosta de Você"


Uma obra de: Dolfenian Khallium


— Rafael, você se sente como uma pessoa insegura? — O terapeuta pergunta olhando diretamente em seus olhos.
— Inseguro sobre o que? — Questiona franzindo a testa.
— Orientação sexual. — Responde bem direto.
— N-não, por quê? — Gagueja. — Quero dizer, eu gosto de meninas, sei disso porque sinto prazer com elas.
— E como sabe que não gosta de homens também?
— Sinceramente... Ultimamente eu não sei de mais nada.
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Na delegacia, Amanda ainda conversa seriamente numa sala bem separada com o delegado, lhe explicando todo o caso detalhe por detalhe. A policial Thaís entra, está bem vestida usando uma roupa social, mantém a postura séria.
— Senhor, me chamou?
— Sim, eu quero que cuide desse caso para mim. Um suspeito de pedofilia, diretor de uma escola abusando de uma garota. Temos provas suficientes para prendê-lo, mas ele provavelmente vai querer um advogado.
— Se você tem provas suficientes ele não é mais suspeito, ele é culpado. — Ela responde de braços cruzados e cara fechada como sempre.
Amanda ao olhar para Thaís sente uma confiança maior do que sentiu no delegado. Ele parecia não se importar muito, já a policial, parece ser bem determinada.
— Eu vou pegar o caso e o endereço pra fazer uma visita na casa dele amanhã, agora já está bem tarde. — Thaís diz dando as costa e saindo da sala. — E garota! Fez bem em denunciar, o mundo precisa de mais gente como você.
— Obrigada. — Ela sorri.
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No dia seguinte, João como de costume, acorda bem cedo. Vai até o banheiro e escova seus dentes. Arruma seu cabelo e coloca seus óculos.
Caminha até a cozinha ligando a televisão. Está passando algum desenho bobo que vai distrai-lo. Pronto para pegar o cereal quando leva um susto. É Nathanael, ele está no fogão preparando algo para o café da manhã. Usa uma calça azul e uma blusa branca simples. Sua beleza é tão incrível que João não consegue parar de pensar nisso toda vez que vê o anjo.
— O que você tá fazendo? — Pergunta se recuperando do susto.
Nathanael dá aquele lindo sorriso, fofo, tímido e inocente. Os ovos estão bem fritos e a mesa está cheia de coisas para o café da manhã. Como por exemplo: pão, queiro, cereal, entre outras coisas. Uma mesa bem feita.
— Pensei em lhe retribuir de algum modo por ter me abrigado em sua casa. — Fala com sua voz suave. — Serei eternamente grato.
João não fala, mas aquela formalidade toda nas palavras claramente incomoda ele. Nunca esteve numa situação como aquela antes, morar com um anjo, seria sua primeira vez. Não sabe como isso funciona, mas precisa se acostumar.
João percebeu como Nathanael se esforçou para fritar os ovos. Tendo em vista que ele sabe bem pouco de como as coisas funcionam na terra. Já que sua última visita foi no século XIV. Então pegar leve com o anjo é uma bora.
— Não precisa se preocupar em fazer essas coisas... — João fala bem calmo.
— É o mínimo que eu posso fazer por você. — Sorri.
Sem motivo algum Nathanael abraça João, o deixando um pouco desconfortável, e sem entender o motivo. Um abraço bem forte e carinhoso.
— O que foi isso? — Pergunta curioso.
— Um abraço, um gesto que vocês, humanos, usam bastante para demonstrar amor e carinho.
Sem saber exatamente o que responder, João se senta na cadeira e come um pão de queijo. Respira fundo e diz.
— Pode, não fazer isso novamente? — Tenta não ser grosseiro.
— Me desculpa, eu achei que você iria gostar e... — Fala um pouco desesperado perdendo o controle.
— Tá tudo bem, eu só não me senti muito a vontade, relaxa, não tem problema. — João interrompe o anjo.
— Me perdoe, prometo que não vai acontecer novamente, eu só queria demonstrar o meu amor...
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Lúcio está tomando café da manhã junto com Rafael, que parece estar agindo um pouco estranho. Não teria comentado sobre Vanessa ou sua faculdade. Está um pouco em silêncio, evitando puxar assunto.
— Tá bem, já que não quer abrir a boca, eu falo. Foi bem legal lá no shopping, até falei pra o João que o meu nome verdadeiro é Lúcius e ele ainda sim não confunde com Lúcio, nome de demônio e nome humano, você sabe. — Lúcio brinca. — O problema é que um anjo apareceu dizendo que foi enviado pelo próprio JC pra me vigiar... O cara tá morando com o João agora, não sei como atura.
— Não acha que tá passando bastante tempo com esse João? — As palavras saem da boca de Rafael quase sem a permissão dele. Até fica um pouco surpreso ao notar que falou o que não devia.
— Como é? — Questiona.
— Droga. — Sussurra sabendo que uma discussão está por vir. — Lá vamos nós.
— O que você tem a ver com isso? Eu te peguei transando com uma garota, e nem por isso eu mandei você parar de ver ela! — Ele exclama quase dando de dedo no rosto dele. — Você não tem motivos pra se incomodar com isso, não transo com ninguém aqui em casa, e eu só fiquei com ele, não vamos namorar nem nada do tipo.
— É diferente! — Ele enfrenta.
— Diferente por quê?! — Fala no mesmo tom.
Rafael nesse momento não sabe como responder, algo dentro de si quer falar. Mas a vontade de manter para ele mesmo é maior.
— Esquece. — Responde diminuindo o tom.
— É sério? Simples assim? Então tá...
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Thaís já está na porta da casa do diretor da escola de Amanda, com o distintivo em sua mão. É quase meio dia, e está um sol muito quente, clima nada agradável. A casa é bem grande e linda, fica no centro da cidade.
Bate na porta esperando por alguém atender. Escuta alguns passos vindos do lado de dentro, seguindo do destrancar da fechadura.
— Felipe Hoffman? — Thaís pergunta ao olhar para o rosto do suspeito. Um homem careca que ninguém ali suspeitaria que poderia ser um monstro.
— Sim. — Responde timidamente com receio.
— O senhor está preso por abusar e chantagear uma menor de idade. — Ela responde puxando as algemas.
— Com que provas? — Pergunta de olhos esbugalhados.
O homem está com o coração a mil, a situação realmente está feia para ele. Thaís leva muito o seu trabalho a sério, mas nada lhe dava mais prazer do que ver um homem como Felipe sendo preso, a justiça sendo feita.
— Temos gravações que mostram tudo.
Ele respira fundo pensando bem numa saída. Está sem ter o que fazer e sem escapatória. Revira seus olhos para todos os cantos até finalmente pensar em algo.
Numa fração de segundo ele aproveita que Thaís está desconcentrada para empurra-la. A mesma perde o equilíbrio e cai no chão. Enquanto se recupera do tombo vendo o arranhão em sua perna, nota que Felipe fugiu e está agora correndo pela rua desesperado.
— Merda! — Ela grita se levantando com rapidez para correr atrás dele.
O homem foge da policial esbarrando em várias pessoas que caminham pela avenida principal cheia de restaurantes e hotéis. Mal teria notado a barra de ferro a sua frente, foi tarde demais quando olhou para frente. Ficou muito preocupado olhando para trás procurando pela policial que quando virou o rosto deu de cara com uma barra de ferro enorme e caiu no chão por conta do impacto.
Thaís já estaria bem próxima a ele, puxou novamente as algemas. Cerra os dentes ao olhar para ele tentando se controlar para não dar um belo soco nele.
— E-eu quero o meu advogado! — Ele fala tentando se defender.
— Advogado?! Você agrediu uma policial, seu idiota!
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Leo acaba de sair da sala de informática da escola. Está preparando as coisas para sair, sabe que seus dias estão contados ali. Fecha a porta indo para o corredor principal. Os alunos já estão saindo da escola, uma grande confusão, como todo dia.
Ele avista Amanda com suas amigas populares e os garotos secando elas. Muita gente ao seu redor, enquanto muitos olham para Amanda e seu bando, ninguém nota a tristeza no olhar de Leo. Ele pega as chaves na porta e coloca sua mochila nas costas. É quando nota que Amanda está indo em sua direção com suas amigas.
Ela nunca teria feito isso antes, seja por vergonha de ser vista em público com ele ou simplesmente por não querer, mas agora está lá e bem feliz por sinal.
— Oi. — Fala sorrindo arrumando a gola da camisa polo de Leo numa intimidade imensa.
Ele franzi o cenho curioso e incerto do que estaria acontecendo. Já notou alguns garotos olhando para ele agora, e suas amigas lhe julgando por olhares.
— Aconteceu alguma coisa? — Ele pergunta timidamente.
— Não, por quê? — Ela ri encarando seus olhos.
— É que você tá falando comigo em público. — Sussurra timidamente.
— Claro, né, por que não falaria?
— Porque eu sou o nerd que cuida dos computadores e faz uma maratona de Star Trek por mês. — As palavras saem num tom bem baixo de sua boca.
— Mas também é o meu namorado. — Responde dando uns tapinhas no ombro dele.
As amigas dela já ficam com os olhos arregalados. Leo não é um garoto feio, pelo contrário, é muito bonito e bem forte, mas ainda sim bem estranho para elas.
— Eu sou? — Questiona.
— Agora é, e vamos fazer maratona de Star Trek juntos. — Ela não perde tempo para roubar do garoto outro beijo bem molhado, o que deixa alguns dos outros garotos bem irritados. Um longo beijo que chegou até a deixar as amigas dela envergonhadas.
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João e Lúcio se encontram novamente numa praça sentados num banco de pedra apreciando a bela vista verde. É nítido como o filho das trevas está irritado e seu amigo tenta não tocar no assunto, mas, inevitavelmente Lúcio toca.
— O Rafael tá muito estranho ultimamente...
— Como assim? — João questiona.
— Não sei, tipo, ele vem agindo estranho de uns tempos pra cá, e hoje eu discuti com ele.
— Discutiu por qual motivo? — Interroga.
— Ele parece que está se incomodando com quem eu saio agora, como se quisesse me controlar. Nunca vi ele desse jeito antes. — Lúcio desabafa. — Eu não fiquei desse jeito quando peguei ele transando com aquela meretriz, e você não precisava saber disso...
— Realmente não precisava, mas... Ele ficou bravo por que nós ficamos?
— Sim, parece que ficou incomodado achando que a gente vai namorar. — Fala respirando fundo.
— Caraca, mas a gente só ficou! — Ele exclama surpreso.
— Sim! E essas atitudes dele já estão me irritando...
João para um tempo pra pensar. Lembra do que Nathanael falou sobre não saber como demonstrar que ama alguém. Talvez o medo de perder Lúcio e a raiva de vê-lo com outra pessoa seja sua maneira de demonstrar como ele ama seu amigo. A conversa fica em silêncio por um instante com ambos apreciando a paisagem.
— Lúcio o Rafael gosta de você. — Fala com tranquilidade deduzindo rapidamente.
— O que? Não! Ele é hétero! Não viaja! — Responde rapidamente.
— E você gosta dele, lá no fundo você sabe, e ele também deve saber que vocês se gostam. Não nega isso...
Lúcio olha para João, lhe encara firmemente pensando bem nas palavras dele, poderia estar certo. Para pra analisar todos os pontos, o recente comportamento de Rafael quando vê Lúcio com João.
— Não faz sentido. — Fala mexendo sua cabeça negativamente.
— Você que sabe, mas eu avisei...

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