Lúcius | 1x09: "Rafael"


Uma obra de: Dolfenian Khallium


— Como se sente sobre o seu amigo o Rafael? — O terapeuta pergunta tomando nota.
— Ultimamente eu não sei. Não acho que o problema esteja em mim. É ele que tá tendo uns ataques bipolares bizarros. — Lúcio responde com toda certeza.
— Talvez você precise tomar atitude, conversar com ele sobre isso, calmamente.
Lúcio respira fundo enquanto revira seus olhos, sabe que o terapeuta está certo.
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Rafael está sentado num dos bancos do campus de sua faculdade. Estuda algum livro tentando evitar contato com seu celular.
O sol bate direto em sua testa, o que irrita ele bastante. Nenhuma sombra por perto e está muito quente.
Conceitos de arquitetura são muito chatos, mas necessário para saber caso ele queira passar no próximo teste. Está muito nervoso com isso tudo e precisa ter um foco maior.
— Oi. — Vanessa surge sentando ao lado dele animada. Dá um selinho no garoto, o que faz ele tomar um leve susto. — Relaxa nego, não vou te assaltar.
— Não, eu tô tranquilo. — Responde olhando para todos os lados disfarçando.
Vanessa repara bem rápido que Rafael está estranho. Não para de bater a ponta da caneta no livro de quase 300 páginas e está soando demais.
— Tá tudo bem, amor? — A garota fala franzindo a testa enquanto tenta acariciar a bochecha dele com seus dedos suavemente.
— Para, nós não estamos namorando. — Ele responde aumentando um pouco o tom de voz e se levantando, parece bem nervoso agora, chegou a assustar Vanessa. — E-eu tenho que ir agora, desculpa.
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Ele deixa o campus apurando seus passos, tentando não olhar para trás. Não quer ver o quão magoada está Vanessa. Sabe que ela está com seus olhos esbugalhados completamente assustada, e que devia ter pego leve com ela.
Depois de um tempo andando ele chega até o ponto para pegar seu ônibus. Como de costume está lotado de gente. Aquele sol não colabora com nada e ele não consegue parar de pensar naquelas coisas que estão acontecendo com ele. Além do teste que ele vai fazer amanhã na sua faculdade.
— Oi, querido... — É Lúcio falando com um tom de voz bem malicioso e um olhar um pouco assustador.
Rafael não consegue pensar em outra coisa agora. — O que ele está fazendo ali? — Franze o cenho ao ver seu amigo.
— Lúcio? Tá fazendo o que aqui?
— A gente vai dar uma volta no shopping. — Ele responde dando uns tapinhas no ombro de Rafael.
— Eu n-não sei se...
— Não foi uma pergunta, Rafael.
Ele respira fundo, sabe que não vale a pena discutir com Lúcio e que seria melhor concordar, até porque precisa relaxar um pouco.
O ônibus chega e depois de tanto pensar, ele é puxado por Lúcio para dentro do grande veículo.
O filho de Satã fica responsável por pagar as passagens, afinal dinheiro não é um problema para ele. Rafael se senta no banco ao lado da janela, apoiando sua cabeça na mesma, parecendo bem depressivo.
— Eu acho que chamei o Rafael para sair, não o João... O que tá acontecendo? — O ônibus dá partida.
— Eu não sei... só vamos relaxar um pouco...
— Tá bom... Quem é a vadia interplanetária que despedaçou o coração do meu best dessa vez?
— Ninguém não... — Responde.
Lúcio olha bem nos olhos dele tentando disfarçar um pouco, sabe que alguma coisa está errada. Poderia facilmente descobrir o que é lendo a mente dele nos pensamentos impuros. Mas jurou para si mesmo que nunca mais iria fazer isso.
— Então tá.
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Levou um tempo até eles chegarem no shopping. Seguindo os conselhos do terapeuta, Lúcio tentou puxar conversa com Rafael a cada dois segundos, mas era sempre recebido com respostas vazias.
Entraram naquele lindo shopping, o clima lá dentro já é mais agradável. Ar condicionados satisfazem um pouco o prazer de Rafael. Muitas pessoas como sempre. Lúcio o arrasta até a sala de jogos, aonde vários adolescentes brincam e namoram.
— Na última vez que a gente veio nesse shopping um garoto quase morreu... — Rafael comenta.
— É, mas meu pai estava junto.
O garoto puxa uma quantia em dinheiro comprando algumas fichas para os jogos no balcão. A mulher lhe entrega 4 fichas e alguns trocados.
— Vamos começar por aquela ali! — Lúcio aponta para a máquina que tem um tipo de guindaste pequeno para pegar ursos de pelúcia dentre outros prêmios.
— Lúcio, essa máquina só rouba dinheiro.
— Vão ficar roubando eternamente... Eu sou uma vadia poderosíssima com muita grana pra torrar.
Rafael dá de ombros e insere a ficha na máquina. Pega no controle sem esperança alguma de sair dali com algum panda, o tal panda que ele sempre via quando passava na frente daquela sala. O panda que encarava direto nos olhos dele.
A garra vai na direção do urso. Rafael acompanha tudo com os olhos. Está tão concentrado que nem pode notar Lúcio mexendo os dedos atrás de suas costas, fazendo um sinal estranho.
A garra pega o panda, e por alguns segundos, Rafael podia jurar que viu aquilo levitar. Está bem firme e preso, indo em direção ao buraco para o garoto retirar o prêmio.
— Parece que a sorte está ao seu favor dessa vez... — Lúcio ri.
Alguns garotos se aproximam. Três no total, todos vestidos de preto com cabelos no estilo emo. Um parecia o clone do outro. E quando olham para Rafael acariciando o panda junto com Lúcio, rapidamente concluem outra coisa.
— Viadinhos aqui? — Um dos três brinca se aproximando.
— Nem o seu Deus ou nosso salvador Lúcifer aceita abominações como vocês! — Fala outro.
— Deveriam ser exilados.
— Tá, e quem são vocês? — Lúcio pergunta franzindo a testa. — As três espiãs demais versão gótica das trevas?
— Só vamos embora, Lúcio... — Rafael diz de cabeça baixa.
— Pera o que?
— Eu quero ir embora daqui... — Diz mais irritado agora.
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Os dois chegaram em casa depois de alguns ônibus. A viagem toda foi em silêncio. Rafael está realmente muito estranho, o que preocupa seu amigo demais.
Ele está no quarto com a porta fechada em silêncio. Conversar com os pais dele sobre o assunto, poderia ser uma boa, se eles não odiassem Lúcio por ser gay.
Olha pela janela da cozinha tentando pensar em alguma maneira de animar seu amigo. Mas finalmente começa a notar, ele não vai conseguir anima-lo se não descobrir e tratar do que tanto incomoda Rafael.
É então que ele respira fundo dando alguns tapinhas no rosto e decide subir a escada, indo até o quarto de Rafael.
Abre a porta sem pensar duas vezes. Não poderia encontrar algo chocante, já que na última vez que ele abriu aquela porta, toda sua inocência foi para o espaço.
Encontra Rafael deitado na cama de cabeça baixa, se joga na mesma cama tentando ser mais animado ainda.
— Tá bem, eu tentei de tudo, e você até recusou aquele panda, cara, você recusou um panda! Ninguém recusa um panda. — Fala brincando. — Como decretado no dia 12 de janeiro de 2016 as 12 horas e alguma coisa, eu Lúcius, usando meu nome de demônio, fui declarado melhor amigo de Rafael Ferreira, e exijo explicações para o que tá acontecendo nessa porra.
Rafael respira fundo, já teria perdido toda sua paciência. Ela não sabe se é uma boa realmente contar isso agora. Mas toda vez que vê o rosto de Lúcio fica irritado com toda essa questão.
— Como você consegue fugir de todos os seus problemas? — Rafael pergunta tentando ser um pouco mais calmo.
— Fizemos uma descoberta! Ele fala! — Lúcio brinca. — Que problemas? Eu não tenho problemas...
— Exatamente, então para de tentar ajudar os outros se você não sabe nem por onde. Nunca teve numa situação assim antes, não sabe como agir, só tá me atrapalhando! — Rafael grita perdendo a calma.
— Pera, o que?! — Lúcio responde a altura do tom de voz, se aproximando mais ainda de Rafael. — Eu tô tentando te ajudar! Não sei se você sabe, mas atualmente eu sou a única pessoa que realmente se importa com você. As outras garotas com quem você sai só querem o que tem de baixo dessas calças!
— Você se importa?! — Grita novamente. — Se importa tanto que até agora ainda não descobriu o que é!
— É claro que eu não descobri, você não deixa eu te ajudar! — Lúcio fala mais irritado.
— Eu não deixo? Cara, ultimamente você só tem passado tempo com aquele João, tudo é João, nem conseguiu perceber o que tá acontecendo ao seu redor!
— Então é sobre isso, o que toda essa merda se trata? — Pergunta Lúcio retoricamente. — Ciúmes, sério? O que eu te disse sobre você com as suas amizades e eu com as minhas, tá cruzando a linha da privacidade e isso já tá me irritando demais!
— Você tem todo o direito de ficar puto quando me pega com outra pessoa, mas eu não posso ter esse mesmo direito? Para né!
— Garoto, eu achei que essa discussão toda era por algo maior, não acredito que tá com ciúmes. Não percebeu que eu tô aqui até agora tentando entender o que tá acontecendo contigo? Eu sei que tem mais coisa, eu sei que tá escondendo algo de mim! Sei disso, eu te conheço, te amo o suficiente para saber que tá mentindo pra mim quando diz que tá tudo bem... Você só se preocupa com as suas coisas, só se preocupa com...
Lúcio é interrompido no mesmo segundo. Mal consegue terminar sua frase. O que aconteceu no instante seguinte deixou o garoto completamente surpreso e de olhos esbugalhados.
Rafael deu um salto, se aproximando mais ainda de Lúcio. Colou seu rosto no dele, dando-lhe um beijo de língua, um longo beijo bem molhado. O acariciou na bochecha por alguns segundos. Não queria parar, enquanto Lúcio ainda estava bastante surpreso. O abraça enquanto continua o beijo naquela cama. Os lábios dos dois se entrelaçam aos montes.
A sala agora fazia um longo silêncio. Rafael se solta de Lúcio. Teve tempo de olhar direto nos olhos esbugalhados do garoto antes de sair correndo do quarto. Em poucos segundos deixa a casa e Lúcio sem expressão alguma no rosto.

CONTINUA...

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