Iron Woman | 1x05 - "O Anjo da Guerra"


Uma obra de: Senhorita Stark
Inspirado em personagens da Marvel Comics


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— Levanta, vamos. – Ele segurou gentilmente meu braço. – Faça o que eu mandar, certo?
Apenas assenti, e obedeci. Questionar mais alguma coisa não era uma opção. Ele levantou as mãos e pediu que eu levantasse. E assim o fiz. Primeiramente três dos terroristas entraram no recinto e na hora reparei que portavam armas que eu fiz. Gelei. Como eles obtiveram acesso? Era a única coisa que eu gostaria de saber. O homem do meio levantou os braços e nos saudou, proferindo algumas palavras em sua língua natal, que foram traduzidas pelo meu amigo. Meu nome pelo menos entendi. Atrás dele, mais homens vinham e ele se aproximava mais de nós.
– Bem-vinda, Natasha Stark. A mais famosa assassina em massa da história dos Estados Unidos. Ele se sente honrado e quer que construa um míssil. O Jericó, de sua demonstração.
Se antes eu já ouvia minha consciência estalando, como se me dissesse “Eu avisei” agora tudo veio de uma vez ao ver a foto que o terrorista tinha em mãos de um de meus mísseis. O ódio me subia com tanta intensidade que comprometia meu juízo perfeito.
— Não. – Disse em alto e bom som. Me arrependeria duramente disso.
A água gelada penetrava minha pele como se fossem facas rasgando minha carne. Estavam mais do que zangados, e sem um pingo de piedade por uma mulher que acabou de passar por um susto, perdeu amigos que estavam tentando ajuda-la, recebeu estilhaços em seu corpo e sofreu uma dolorosa cirurgia para tentar removê-los; parecia que não tinham nada a perder. Minha cabeça foi submergida à força, eu fui agarrada pelos cabelos e braços. Tudo porque me recusei a construir uma arma de destruição em massa que eles utilizariam para matar milhões em meu nome. Novamente colocaram um caso em minha cabeça e me trouxeram para fora da caverna, notei pela luminosidade do dia. Quando tiraram aquilo da minha cabeça e meus olhos bateram de frente com a realidade, desejei que fosse enfiado de novo.
Eu estava com a bateria de carro em meus braços e a luz forte me atordoou mais do que eu já estava. Eu vestia um moletom preto por cima da camiseta cinza. Um deles me empurrou e fui entrando no meio daquela área de armazenamento de peças que eu havia projetado. Nada bom, terroristas planejando a dominação de territórios e até mesmo algo pior e em maior escala com as armas das Indústrias Stark. O logotipo da minha empresa estampado em mísseis, caixas e outros equipamentos. O que foi que eu fiz? Como as coisas começaram a dar errado? O terrorista começou a falar novamente, eu tinha raiva, ódio, mas não podia extravasar ou acabaria morta e aí sim o trabalho de toda minha vida até o momento seria utilizado para o mal.
— Ele disse que conseguiu reunir tudo o que você precisa para construir o míssil. – O meu amigo de óculos de armação circular. – Só precisa que faça uma lista de materiais e que comece a trabalhar imediatamente. Quando terminar ele a libertará.
Ele estendeu a mão, cinicamente e eu apertei com nojo, mas sabendo disfarçar. Eu era mestre nisso. Eu sabia que ele não iria me libertar. Olhei em volta e avistei vários homens armados em cima das rochas, nos pontos mais altos em meio àquela paisagem. Um deles, um careca, me pareceu um tanto exótico. Em frente ao fogo, com uma touca na cabeça e coberta com um casaco, refleti olhando as labaredas. Militares devem estar procurando por mim, mas dificilmente me encontrariam em um lugar como esse. Tão escondido.
— Nunca vão me encontrar. – Desabafei.
— O trabalho de toda sua vida agora nas mãos de assassinos, Srta. Stark. Pense nisso. – Disse meu amigo. – Vai morrer assim? É a última dança da princesa Stark?
— Não sou uma princesa... – Minha voz saiu falha.- E por que eu faria alguma coisa? Tá claro que eles vão me matar. Prefiro a morte do que... – Minha voz falhou na hora. Balancei a cabeça negativamente e suspirei. - E também, tenho poucos dias de vida mesmo.
Ambos concordávamos que seria uma semana bem especial e decisiva na minha vida. Passei as próximas horas organizando os equipamentos em minha oficina de guerra, me certifiquei de que a estação de trabalho fosse bem iluminada. Material de solda, produtos químicos e ferramentas diversas. Enquanto eu falava, meu amigo traduzia para os homens. Eu tinha adquirido uma luva de pano e conversava com meu amigo enquanto mexia em um dos mísseis com o logotipo de minha empresa estampado, lembrando-me de minha imensa responsabilidade por tudo aquilo.
— Quantos idiomas você fala? – Perguntei.
— Muitos, mas parece não ser o bastante.
— Quem é essa gente?
— Sua clientela fiel. Eles se chamam “Os Dez Anéis”.
Achei o nome bem da hora, típico de vilões de quadrinhos. Removi uma das peças do míssil, que julguei desnecessária, e a joguei para trás. O homem resmungou um pouco, dizendo que seríamos mais produtivos se o incluísse no processo. Retirei um pedaço de Paládio, algumas gramas, mas eu precisava de mais um pouco. Comecei a moldar à ferro e fogo uma argola metálica rudimentar fina, com o Paládio que havia derretido.
— Desculpe perguntar só agora. Mas como você se chama? – Perguntei com vergonha.
— Yinsen. Ho Yinsen.
E com o tempo, engrossei aquela argola com mais que fazia e adicionando outros fios metálicos ao redor da pequena engenhoca. Me sentia costurando uma roupa. Finamente liguei o dispositivo que criei, usando a bateria de carro, emitindo uma luz azul intensa, clareando o local como se me desse uma luz no fim do túnel. Eu fiz uma miniatura do reator Arc, um antigo projeto de meu pai que trabalhou nisso por anos e anos. Possuo um grande em casa, que abastece a fábrica.
— Acho que isso vai manter os estilhaços longe do meu coração, Yinsen.
— Quanto isso gera?
— Uns três gigajoules por segundo.
— Pode fazer o seu coração bater por 50 vidas.
— Ou alguma coisa grande por 15 minutos.
Depositei vários papéis finos sobre uma mesa e liguei a luminária. Eu e Yinsen estávamos diante de várias peças metálicas que ele não conseguia compreender como eu. Organizando-os, deram origem ao meu mais recente projeto. Quando eu apresento minhas invenções ao mundo, geralmente me refiro a elas como meu projeto atual e penúltima obra, pois a minha mente não para e já pensa no próximo trabalho. A engenhoca tratava-se de uma grande armadura, que eu tive a ideia de projetar enquanto me lembrava de minha infância. Eles ainda nos vigiavam para se certificarem que estávamos fazendo o míssil Jericó. Para ajudar a passar o tempo, eu e Yinsen jogávamos um jogo comum da região, que aprendi em poucos segundos.
— Você ainda não me disse de onde veio, Yinsen. – Perguntei.
— Vim de uma pequena cidade, chamada Gulmira. É um lugar muito bonito.
— Tem família?
— Tenho. E eu vou vê-los quando eu sair daqui. E quanto á você, Stark?
— Não... – Abaixei a cabeça. Ele percebeu que meu “não” tinha algo mais e então decidi abrir o jogo. – Tive uma filha... – fiz uma breve pausa. – Aos dezesseis anos. Mas não pude ficar com ela. Seria péssimo para a imagem da empresa.
— Então você tem tudo, mas não tem nada.
Olhei para ele, engolindo em seco ao ouvir ele simplesmente concluir o raciocínio. Eu continuei meu trabalho, vestia minha camisa branca, com os botões até a altura do reator em meu peito, e usava óculos de proteção enquanto soldava as partes da armadura. De repente fomos interrompidos novamente. Ouvi a voz do homem proferindo alguma coisa na língua deles e o portão foi aberto, dando espaço àquele mar de homens vestindo verde e vários com armas na mão. Desta vez, no entanto apareceu um homem diferente. Tão terrorista quanto os outros, porém com um ar de poderoso, andar lento, uma espécie de saião e sua cabeça era raspada. Seria ele o líder dos Dez Anéis, ou apenas um comandante daquele grupo?
— Relaxe... – O homem se dirigiu a mim e eu abaixei as mãos. Minha aparência era horrível. Suja, descabelada e com a gola da camiseta um pouco torta. Essa, no entanto, não era a minha maior preocupação. O homem se aproximou de mim e com o dedo indicador remexeu minha blusa, observando o reator que emitia um brilho azulado. Raiva. Meu reflexo me fez se afastar dele apenas alguns centímetros, armas foram apontadas para mim.
— O arco e flecha já foram o auge da tecnologia armamentista. – Ele fez uma breve pausa, andando para o outro lado. – Permitiu ao grande Gengis Khan o domínio do pacífico à Ucrânia. Seu império era o dobro do de Alexandre, O Grande. E quatro vezes o Império Romano. –
Ele começou a circundar-me e foi até a mesa, pegando nos papéis com o esquema da armadura. Miseráveis, aquela cena toda apenas serviu para confirmar minhas suspeitas terríveis. Estavam me usando para obter minha tecnologia e expandir um império de terror por cada vez mais regiões da terra. Minha raiva aumentava cada hora que se passava.
— Hoje, no entanto, quem possuir as mais modernas armas Stark. Domina esses territórios. – Ele olhou para mim. Eu podia ver o mesmo brilho dos olhos de todos aqueles que já experimentaram o poder de dominar mais e mais territórios naqueles olhos negros dele. Logo depois ele se virou para Yinsen, meu medo crescia.
— Por que nos decepcionou? – Ele disse em árabe.
— Estamos trabalhando. Arduamente. – Respondeu Yinsen na mesma língua.
— Deixei você vivo e é assim que retribui? – Ele se aproximou de meu amigo. Fiquei tensa.
Por mais que Yinsen tentasse explicar, estava claro que não seria o suficiente e logo começaram a utilizar a força, para o meu pavor. O colocaram de joelhos e o homem careca foi ao fogo e preparou uma brasa para “castigar” meu amigo. Puseram sua cabeça em uma superfície metálica, meu coração acelerava com a iminência da pele de Yinsen ser marcada a ferro e fogo, para arrancar dele uma confissão.
— Diga a verdade. – Ele ordenou
— Estamos trabalhando. Ele está construindo o Míssil Jericó.
O homem gritava enquanto Yinsen tentava argumentar sem sucesso. A tensão só aumentava, então eu interferi propondo uma data de entrega, os homens erguiam seus rifles e o gordinho estendeu a mão em sinal de pare. O careca olhou para mim, ainda mantendo a pequena pedrinha incandescente próxima do olho de Yinsen.
— Eu preciso dele. É um bom assistente.
Eu implorei e respirei um pouco aliviada quando ele derrubou a pedrinha na superfície, ao invés da pele de meu amigo. Eles foram embora, nos dando um prazo de um dia para a entrega do míssil e desde então começamos a trabalhar intensamente. Uma, duas, três, quatro, cinco marretadas raivosas sobre uma peça de metal. A raiva era o combustível que alimentava meus músculos e à cada golpe, imaginava a cabeça de cada um deles sendo esmagada por aquele martelo. Não tinha a menor ideia do que eram os Dez Anéis, mas tinha certeza de uma coisa: Eles pagariam caro por cada segundo que me fizeram passar naquele lugar. Após mergulhar a peça em um líquido e emergi-la novamente, a coloquei na mesa de Yinsen, que mexia em alguns fios. Ao erguer a cabeça ele se viu diante da face da armadura. Uma face metálica de expressões duras, como meu estado de espírito. Na hora até me lembrei de uma música de uma das minhas bandas favoritas. Iron Man, do Black Sabbath.
Heavy boots of lead
Fills his victims full of dread
Running as fast as they can
Iron man lives again!
Eu me peguei sorrindo ao ouvir cada acorde da canção em minha mente, ao menos aquilo me ajudava a manter minha mente sadia. Eu estava criando o meu próprio Homem de Ferro, que seria guiado por uma mulher, e em breve eles sentiriam o poder da minha vingança. Enfaixei minhas mãos enquanto Yinsen erguia o tronco da armadura, posicionando o. Vesti um casaco marrom por cima de uma blusa preta e Yinsen me ajudou com as luvas de borracha. Ele colocou um protetor em meu pescoço e só então a armadura foi sendo encaixada aos poucos em meu corpo, começando pelo peitoral. O centro foi aceso, brilhando em azul quando a peça se encaixou em meu tronco. Testamos então meus movimentos e eu fui instruindo Yinsen ao apertar parafusos e acertar detalhes. Ouvimos vozes, chamando-nos em Húngaro, sinal de que tínhamos que apressar o trabalho. Um dos terroristas abriu a porta e a bomba que colocamos na entrada detonou, queimando-os. Dois haviam sido apagados, eu sorri.
Chego até mesmo a suspeitar que eu tenha algo obscuro dentro de mim que se diverte com isso, mas outra coisa dentro de mim parecia me fazer sentir como há dois dias atrás, antes da viagem. Aquele pressentimento, detestava aquela sensação mais do que tudo.
— Inicie a sequência de energização agora. Função F11. A barra está aumentando? – Perguntei.
Yinsen foi ao computador verificar, dei os comandos e a energização começou como se eu estivesse fazendo um download. Mais homens se aproximavam cada vez mais, eu podia ouvi-los.
— Aperte os parafusos. – Pedi.
— Estão vindo!
— Se esconda e não se esqueça, só me siga se estiver seguro. – Orientei preocupada, aquela agonia estranhamente só aumentava. Eu temia por ele.
— Precisamos de mais tempo, Stark. – Ele olhou para trás. E parou bem em frente a mim. – Natasha, eu vou ganhar mais tempo.
— Espera... continue com o plano, o plano!! Yinsen!! – Eu gritei quando ele pegou uma metralhadora e saiu correndo.
Senti o coração falhar uma batida. Ele estava mesmo disposto a se sacrificar por mim. O homem saiu disparando tiros pelo ar para chamar a atenção. Olhei para a tela do computador, acompanhando apreensiva o avanço da barra. Yinsen conseguiu com sucesso afugentar apenas dois homens, passando correndo com a metralhadora pelo túnel de paredes rochosas com uma linha de lâmpadas penduradas até encontrar com os demais homens do bando fortemente armados, os rifles apontando para ele.
Quando o computador finalizou, as demais luzes do local se apagaram, mergulhando-me em quase absoluta escuridão. Meu Homem de Ferro escondera-se para pegar suas vítimas. Mexia minha mão, louca para finalmente entrar em ação. Um foi jogado longe, de nada adiantando sua metralhadora. Tiros no escuro não adiantaram para os outros três que restaram na porta, de repente uma luz incidiu sobre eles e novamente eu derrubei mais e mais. Tiros pareciam cócegas, eu avançava ferozmente, aniquilando um a um, jogando os para longe e socando, à medida que eu passava pelo corredor, rumo à saída.
Pobres almas, eu estava saboreando minha vingança. Meu olhar feroz incidindo sobre todos eles. Encurralei quatro terroristas que entraram atrás de um portão que se fechou antes que um deles pudesse entrar. Eles ouviram batidas e gritos de seu companheiro até que a voz se calou e o portão foi cedendo aos poucos aos meus avanços brutos. O portão cedeu e eles correram como ratos. Fiquei presa em um determinado ponto da parede, um deles tentou atirar em meu elmo e o tiro ricocheteou de volta para a cabeça dele.
Mais alguns metros à frente eu encontrei Yinsen, caído e ferido. Meu instinto assassino logo deu lugar ao meu lado mais humano e parei para resgatá-lo. Novamente senti aquela sensação, só que mais forte.
— Yinsen!
— Cuidado. – Ele gritou
Uma bazuca, disparada pelo careca veio em minha direção, mas eu desviei a tempo. A arma acertou apenas uma rocha atrás de mim. Revidei com minha bazuca, explodindo a rocha atrás dele, derrubando o no chão pela onda de choque. Retirei um saco de cima de Yinsen.
— Stark. – Ele disse com a voz já falhando.
— Vem, nós temos que ir. – Me aproximei dele, erguendo a máscara do elmo da armadura. – Vamos, logo temos um plano a seguir.
— Esse sempre foi o plano. – Ele disse, utilizando suas últimas energias. Piscando e suspirando em agonia.
— Mas... – Minha voz começava a falhar e um nó bem forte se formou em minha garganta. – Você tem que levantar, estamos livres e você vai ver sua família... – Meus olhos marejavam embora eu me esforçasse para lutar contra as expressões de choro.
— Minha família está morta, Natasha. Eu vou vê-los agora. – Yinsen dizia com uma paz interior invejável. – Tá tudo bem, eu quero isso.
Não consegui mais conter as lágrimas rolando em meu rosto. Já havia perdido meus amigos horas atrás, alvejados pelos mesmos terroristas que agora tiravam a vida de meu mais novo amigo. Mas pelo menos estava feliz por ele poder reencontrar sua família. Respirei bem fundo, reunindo forças para falar.
— Yinsen... M..muito obrigada por me salvar... – Comecei a soluçar a partir daí.
— Não desperdice sua vida, Stark... – Ele me aconselhou enquanto a vida começava a deixá-lo.
— Nunca... – Minha voz saía aguda e fraca pelo choro.
Fechei os olhos, pressionando as pálpebras e abrindo a boca, me permitindo tentar aliviar meu peito pelo choro. As lágrimas inundando meu rosto vermelho. Solucei bastante até que abri os olhos, e olhei para o vazio, deixando a raiva controlar-me e levantei, seguindo andando em direção a saída. Do lado de fora, mais homens me aguardavam sair da escuridão da caverna, armas apontadas esperando me alvejarem. Eu atendi seus desejos, minha face por dentro da máscara de metal era ódio puro e eu me deliciava com aquela sensação de poder aniquilar meus inimigos. Me sentia como na música “Iron Man”. Um ser metálico buscando vingança. A luz do reator surgiu na escuridão, bem como as peças metálicas, eu pisava forte no chão. Um homem gritou, ordenando a salva de tiros contra minha armadura indestrutível. Tolos. Com o fim da munição deles, era a minha deixa.
— Minha vez. – Minha voz saiu embargada pelo rancor e desprezo por aqueles terroristas.
Disparei um lança-chamas pelos dois braços, incinerando tudo o que via pela frente, desde terroristas até armas e equipamentos das Indústrias Stark pelo local. Mais homens revidavam com tiros e mais tiros, não sabia até onde minha armadura resistiria à diferentes calibres, eu acabei caindo uma hora, mas por pouco tempo. Logo disparei mais um lança chamas e segui resistindo aos tiros em meio aquele caos. Chega, acionei a habilidade de voo, abrindo uma tampela em meu braço e apertei um botão. O local inteiro mergulhou em um mar de chamas e explosões depois que saí. Os propulsores ligaram e eu alcei voo para bem longe dali, rumo a liberdade. A armadura era rudimentar e por isso, mesmo com minha engenhosidade, meus recursos da caverna eram muito limitados e não deu para pensar bem na modalidade aérea. Após a partida, meu traje aguentou a viajem só até certo ponto, até que caí na areia, despedaçando a armadura, levantando um tufo de poeira e vendo suas partes se espalharem por aí. Pelo menos minha queda foi amortecida e eu estava livre.
— Wow. – Suspirei aliviada, toda cheia de sucata em volta. Eu ainda estava com as luvas. Eu estava horrível.
Saí andando e correndo pelo deserto, em busca de algum avião ou helicóptero que passasse. Eu só queria ir para casa dormir por duas semanas e fazer algo muito importante. Não é o que cê tá pensando. Depois de um tempo andei cambaleante, não acreditei que minhas forças já estavam se esgotando e eu ainda não via um maldito helicóptero. Minha cabeça estava protegia por um casaco daquele sol escaldante, eu parecia uma verdadeira árabe andando por aquelas terras desertas. Minhas calças bem rasgadas.
Helicópteros, ouvi sons de helicópteros. Uma miragem? Helicópteros americanos ou terroristas? Nunca senti tanto alívio ao ver a bandeira Norte-Americana, de longe e bem pequena em um dos helicópteros que surgiram logo atrás de mim.
— AAHHHHH... Aqui, porra. – Berrei o mais alto que minha garganta aguentava, acenando para os dois helicópteros que se aproximavam. Eu ria também. Me ajoelhei na areia e levantei o braço, com os dois dedos para cima. O helicóptero aterrissou com a porta aberta e Rhodes e seu grupo de soldados vieram até mim.
— Como foi lá no Jipe da diversão? – Ele disse e eu nem respondi, apenas sorri e fiquei calada, merecia a bronca. – Da próxima vez você vai andar comigo, entendeu? – Eu assenti e fui levada para dentro do helicóptero. Eu estava horrível, meu braço sangrava.
Dentro do helicóptero, deitada sobre uma maca, eu só conseguia pensar em Khadija, os demais soldados e Yinsen. Mortos por aqueles que usavam minha tecnologia para espalhar o terror. Quantas outras mortes em minha consciência? Quantos outros lugares no mundo homens mal-intencionados obtiveram acesso a minhas armas, fazendo pessoas sofrerem? Eu sabia o que tinha que fazer e a qualquer custo.
Deitei minha cabeça, fechei os olhos e deixei mais uma lágrima cair antes de me entregar ao sono de descanso até chegar ao hospital, antes de ir para casa.

CONTINUA...

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