Lúcius | 1x01: "Terapia de Casal" [SERIES PREMIERE]


Uma obra de: Dolfenian Khallium


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Estão os dois sentados naquele sofá macio marrom, naquela sala bem iluminada com vista para o mar.
O terapeuta encara os dois começando a fazer algumas anotações. Lúcio é um jovem de 18 anos, corte de cabelo social e militar bem penteado de cor loira. Pele clara e olhos vermelhos, literalmente vermelhos, cor sangue. Parece tediado, bate com os dedos de sua mão na borda do sofá enquanto cruza suas pernas aguardando silenciosamente.
O outro é Rafael, parece mais inseguro. Possui a mesma idade que Lúcio. Tem uma beleza muito grande. Dono de belos olhos castanhos, cabelos lisos escuros e bem cuidados, e uma pele branca e macia. Revira seus olhos tentando disfarçar a pressão.
— Então, vocês vieram para essa terapia de casal. Já é um bom passo, reconhecer que o relacionamento de vocês tem alguns problemas é o primeiro ponto para receber uma ajuda. — Diz o terapeuta. Um homem alto e magro, cabelos encaracolados e uma pequena barba.
— Não somos um casal. — Responde Lúcio. — Ele é hetero. — Aponta seus olhos para Rafael dando também uma jogada de cabeça.
O terapeuta confuso, não sabe ao certo como responder. Esse tipo de coisa nunca teria acontecido antes.
— Não são um casal? — Pergunta surpreso. — Então, por que estão aqui?
Lúcio para de bater os dedos e descruza as pernas olhando fixamente nos olhos do terapeuta enquanto Rafael continua nervoso.
— É uma longa história...
— Bem, vamos as apresentações então. — O terapeuta bate uma palma desviando o assunto e descontraindo. — Vamos começar por você Rafael. Que é exatamente o Rafael?
O garoto volta para a realidade ao escutar seu nome. Seus olhos se concentram agora no terapeuta e ele já bola alguma coisa para falar.
— Bem, eu não sei ao certo o que dizer. — Responde o garoto sorrindo, mostrando seu lindo sorriso enquanto Lúcio revira os olhos com tédio. — Eu sou de escorpião, mas não tenho nenhuma característica desse signo. Sou bom demais com as pessoas, tento sempre ver o bom nisso. Gosto de sair bastante e costumo não me importar com a opinião alheia, apesar de eu ser claramente um metrossexual.
— Tá vendo! — Diz Lúcio gritando enquanto aponta a mão para Rafael. — Esse é o problema, você é sempre bom demais com os outros! E eu acabo tendo que resolver tudo!
— Uau. — Diz o terapeuta enquanto faz suas anotações. — Bem, vocês não são um casal. Mas moram juntos certo? Lúcio, já que falou, poderia se apresentar?
— Alugamos uma casa em Curitiba por conta da Faculdade. Nos conhecemos a uns três anos, e decidimos nos mudar quando vimos que iriamos para a mesma cidade. — Lúcio diz um pouco mais calmo. — Bem, sobre mim, eu sou um bissexual um pouco explosivo demais, me irrito muito rápido, e se estivéssemos em um relacionamento, eu claramente seria a representação da mulher preocupada que barra tudo. — Diz o garoto rápido demais. — Meu pai deve estar rindo aos montes lá em baixo. — Ele murmura.
— Seu pai? — Repete o terapeuta.
— A não... — Diz Rafael. — Lúcio, por favor não!
— Meu pai é Lúcifer. — Diz o garoto ignorando as palavras de Rafael.
O outro garoto dá um tapa na própria testa ao escutar as palavras de seu companheiro de casa.
— O nome do seu pai é Lúcifer? — Pergunta o terapeuta, mas facilmente é ignorado.
— Droga Lúcio, por que você tem que falar isso pra todo mundo que você conhece? — Diz Rafael irritado. — Você já me viu falar com qualquer pessoa desconhecida sobre o meu pai assim de cara?
— Claro que não, se o seu pai pelo menos fosse relevante pra algo... — Cochicha o garoto apoiando suas mãos sobre seu rosto e cotovelos sobre o canto do sofá.
Rafael fica sem palavras, chocado com a grosseria. Apenas aponta suas duas mãos para o menino que nem se importa e encara o terapeuta com uma feição que claramente diz “Está vendo?!”
— Está bem gente. Preciso de um pouco de foco. — Aponta o terapeuta chamando atenção dos garotos e cessando a discussão. Deixando a sala em silêncio. — Agora, só pra saber, por que você disse que o seu pai deve estar rindo lá em baixo? — Pergunta o terapeuta enquanto coça sua barba.
— Ah, fala sério! — Resmunga Rafael se levantando do sofá. — Vamos embora dessa merda, Lúcio.
•••
DOIS DIAS ANTES
Lúcio está fazendo as compras do mês. Em sua mão, um papel contendo a lista de produtos que ele precisa comprar. E a sua frente, um carrinho de compras. Estaria usando suas lentes de contato de cor azul para esconder a verdadeira coloração de seus olhos, evitando questionamentos de outras pessoas.
Ele anda pelos corredores até finalmente encontrar a área dos produtos de beleza. A lista dos itens à se comprar parecia ter mais produtos pra cabelo do que comida, e eram todos produtos para o Rafael.
Algum tempo teria se passado e metade do carrinho estava cheio apenas com produtos de beleza.
O garoto segue reto para os próximos itens da lista. Estava tudo muito calmo e a música tranquilizante vinda das caixas de som no teto colaborava para tudo isso.
É então que ele avista uma garota. Aparenta ter entre 3 a 5 anos. Vestida como uma princesa, alguns dentes da frente teriam caído, mas seu sorriso ainda seria lindo. Provavelmente seria de origem asiática pelo rosto e tom de pele.
— Oi. — Diz a garota sorrindo para Lúcio.
Ele para o carrinho fitando os olhos na garota desconfiado. Lúcio não queria papo com ninguém agora. Olha para a garota naquele clima tenso enquanto a música calma toca.
— Oi. — Responde secamente tornando a andar com seu carrinho.
Ele é interrompido novamente quando a garota diz algo que lhe chama atenção.
— Eu me perdi dos meus pais. — Ela fala tirando o sorriso do rosto e mostrando estar triste. — Não sei onde eles estão...
Lúcio larga as mãos do carrinho. Olha bem nos olhos brilhantes da garota por conta das lágrimas. Ele se ajoelha para ela ficando a mesma altura que a garota. Acaricia sua bochecha lisa.
— Minha filha... Esse problema é todo seu... Eu não tenho nada a ver com isso não, meu bem... — Responde de uma forma calma e suave.
Se levanta deixando a garota ali sozinha. Ao olhar para o final do corredor avista duas idosas encarando o garoto com maus olhares enquanto sussurram algo sobre ele.
O menino parece pouco se importar segue seu caminho com o carrinho passando pelas mulheres de nariz empinado.
— Caguei pra isso... — Responde passando por elas ainda calmo.
É nesse momento que o celular dele toca. Seria Rafael...
•••
ALGUNS MINUTOS ANTES
Rafael estaria na faculdade. Seu curso é Arquitetura, teria recém começado. Um verdadeiro calouro em seu primeiro dia de aula.
A universidade era completamente diferente de tudo o que ele imaginava. E mais diferente ainda do ensino médio. Era tudo um pouco assustador demais. Ele e Lúcio teriam se mudado a pouco tempo e já haviam várias responsabilidades.
A começar pela escolha entre Florianópolis e Curitiba. Acabaram escolhendo a segunda opção por ter um custo de vida mais barato.
Ele estaria agora pensando em sua vida. Passou bastante tempo longe de seus pais. Está sentado em um banco de pedra numa praça da escola tomando um sol enquanto aguarda a aula.
Um garoto se senta ao lado dele. Pele parda, cabelos encaracolados e lindos olhos azuis. Carrega também um notebook para suas aulas.
— E aí? — Diz o garoto sorrindo.
— Olá. — Responde Rafael também sorrindo.
— Você é calouro né? Me chamo Gustavo.
— Sim, sou. Você também? — Ele pergunta.
— Não, estou no terceiro período. Ei você já passou pelo trote?
— Não? Que trote? — Questiona um pouco curioso.
— Todos os calouros passam por algum mico quando entram aqui. É a regra ou nunca vai socializar com o grupo.
Rafael desconfia um pouco pelo sorriso do garoto. Não se sente muito confiante, mas é algo que ele precisa fazer para “sobreviver” ali. Ele gosta de festas e sempre foi assim. Ter sua imagem manchada para sempre não seria legal.
— E o que eu tenho que fazer? — Pergunta.
— Pular na fonte do pátio. Temos que registrar isso, os outros alunos já passaram por isso, só falta você.
— Tá brincando né? — Franze a testa.
— Não, relaxa, temos roupas reservas pra você no vestiário.
— Está bem... — Ele resmunga ainda com incerteza.
Os dois se levantam do banco. Gustavo vai guiando ele até a fonte de água. Um lugar lindo e bem chamativo. Ela estava ligada circulando água para todos os cantos.
Várias pessoas estavam por perto. Dentre elas os amigos de Gustavo que aguardavam ali por perto. Um deles estava com o celular em suas mãos ligando a câmera.
Rafael caminha timidamente atrás de Gustavo que tenta aconchega-lo. Eles chegam ao local e o garoto deixa seus pertences no chão para não molha-los. Ainda se arrependendo mentalmente por ter topado isso.
— Bem, jovens, estamos aqui agora, com o último calouro que irá fazer o ritual de passagem. Esse é Rafael, e ele vai pular. — Grita o menino enquanto Rafael dá uma leve acenada forçando um sorriso.
O garoto se aproxima da fonte enquanto os outros ao redor questionam se ele realmente iria pular.
Ele tira seu suéter deixando à mostra sua camisa de Star Wars preta. Encara bem a água e vê seu reflexo. O lado positivo é que ela estaria limpa.
Conta até três respirando fundo enquanto os outros olham para ele sorrindo. E então pula.
Rapidamente sente a água gelada. Em poucos segundos estaria todo molhado. Gotas respingam por todos os cantos e vários alunos riem ao mesmo tempo enquanto outros tiram fotos. Rafael joga sua franja molhada para o lado ao recuperar seu folego.
— Bem, eu fiz e agora preciso de roupas novas. — Ele fala.
— Putz, esqueci de te falar, não tem roupas no vestiário. Acabei de lembrar que doamos todas ontem. — O garoto fala usando uma voz irritante enquanto sorri com seu sarcasmo.
— Como é? — Pergunta Rafael se irritando um pouco.
— Melhor a gente ir agora galera! — Fala Gustavo ignorando o garoto e saindo correndo com seus amigos.
— DROGA! — Ele grita jogando água para todos os cantos.
Se levanta e sai da fonte. Todo molhado. A roupa estaria lhe irritando e não teria condições para entrar na sala assim. Vários alunos olham a situação e tentam não rir, ficando sérios. E algumas garotas ainda notam seus músculos pela camisa grudada em seu abdômen.
Se sacode um pouco liberando o resto de água preso em suas roupas. Pega seu celular e liga para Lúcio imediatamente.
— Fala, como tá o primeiro dia? — Pergunta da outra linha animado.
— Preciso de roupas novas, agora... — Responde sério.
— Mas hein?


CONTINUA...

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